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Projeto quer atrair 1 bilhão de reais para a Zona Norte

A prefeitura prepara um pacote de medidas para reurbanizar o entorno dos BRTs nos bairros da Zona Norte

Por Ernesto Neves
Atualizado em 2 jun 2017, 12h50 - Publicado em 19 dez 2014, 17h13
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    Projeto estratégico do plano olímpico da cidade, o BRT Transcarioca conecta desde julho o aeroporto internacional à Barra com uma fluidez inédita para quem trafega pela Zona Norte. São 39 quilômetros percorridos em pouco mais de meia hora, cortando um trecho nevrálgico da cidade, onde vive 1,4 milhão de pessoas. Se para quem viaja pelo corredor a impressão é positiva, o que se vê do lado de fora dos veículos, no entanto, não poderia ser mais melancólico. Trata-se de uma sucessão de galpões abandonados e casas decrépitas que ocupam ruas sem calçada e de trânsito caótico. Até que se chegue à Barra, são raros os prédios comerciais e residenciais modernos, reflexo direto da estagnação econômica e da violência urbana que lançou a área em um limbo imobiliário nas últimas décadas. Uma iniciativa da prefeitura promete injetar recursos da ordem de 1 bilhão de reais para reverter esse quadro. Um projeto de lei enviado à Câmara Municipal prevê a criação de uma área especial de interesse urbanístico (AEIU) no entorno da Transcarioca, com o objetivo de incentivar a construção de novos prédios residenciais e comerciais ao redor da via. “É fundamental ocuparmos de forma adequada uma região dotada de ampla estrutura de transportes, próxima ao Centro e repleta de grandes empresas”, explica Madalena Saint Martin, secretária de Urbanismo.

    Durante cinco anos, equipes da secretaria percorreram a pé a área em questão para mapear as necessidades de cada trecho. Com isso, foram selecionados eixos de desenvolvimento adjacentes à Transcarioca e também a arredores de outros sistemas de transporte, como as linhas de trem da Supervia e a Avenida Brasil. A nova lei prevê descontos para quem adotar nas edificações parâmetros em voga no urbanismo moderno. Entre eles está a construção de prédios de uso misto (comercial e residencial). A ideia é que haja ali uma ocupação semelhante à da Zona Sul, onde o térreo é em geral tomado por lojas de rua. Os técnicos querem evitar o surgimento de condomínios isolados, fechados por muros e sem contato com o entorno. Também será estimulada a utilização de parte dos terrenos para áreas verdes, como pequenas praças. Apesar de o Rio contar com amplas florestas urbanas, a Zona Norte tem alto índice de terrenos cobertos por concreto (em alguns bairros chega a 98%).

    Daí também a importância da requalificação dos arredores do Parque Madureira, uma das raras ilhas de vegetação na região. Outra medida que deve ajudar a recuperar a degradação é o desconto para quem construir empreendimentos próximo às favelas. A região, como se sabe, viu os barracos proliferarem de forma exponencial na esteira da decadência urbana. Essa medida deve ter impacto especial em Bonsucesso, bairro espremido entre os complexos da Maré e do Alemão. Ambos estão ocupados por forças de segurança. Por isso, a consolidação do projeto de pacificação é considerada fundamental para que a medida tenha o efeito desejado. Segundo estimativas da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), os resultados devem aparecer num período aproximado de cinco anos após a aprovação da legislação. “É o tempo necessário para que empresas lancem os empreendimentos”, diz João Paulo Matos, presidente da entidade.

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    Regiões compreendidas pelo projeto
    Regiões compreendidas pelo projeto ()

    De acordo com a própria prefeitura, o ciclo virtuoso de empreendimentos deve atrair para a Zona Norte cerca de 45 000 moradores. Deverá ser construído um total de 1,6 milhão de metros quadrados de salas comerciais, lojas e apartamentos. Os impostos arrecadados pelo estímulo à construção civil deverão ser investidos em melhorias no próprio setor. Aproveitar a infraestrutura de linhas férreas e ônibus para promover a revitalização de áreas estagnadas é uma tendência mundial, que atende pelo nome de Transporte Orientado ao Desenvolvimento. O processo é uma reação ao espraiamento da cidade para longe dos centros comerciais, em que moradores migram para terrenos da periferia em busca de qualidade de vida. Foi o que fez Cleveland, nos Estados Unidos. Estagnada após o fechamento de indústrias, a cidade flexibilizou as regras em torno de seu corredor de ônibus. Cada dólar gasto na construção do BRT de lá rendeu 31 vezes mais investimentos.

    O mesmo se deu na engarrafada Cidade do México e em Bogotá, capital da Colômbia. “O transporte público é o elemento fundamental de desenvolvimento urbano, e o BRT cumpre esse papel”, diz o prefeito Eduardo Paes. Por aqui, o processo deve ganhar reforço em 2016, quando será inaugurado o BRT Transbrasil. Nos arredores da Avenida Brasil já está em vigor uma legislação atualizada. Apesar de ainda incipiente, atribuem-se a ela os novos edifícios em construção na Penha. Protagonista da economia carioca por décadas, a Zona Norte tem tudo para, enfim, recuperar o orgulho perdido no passado. 

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