Nos bairros da periferia carioca, o futebol vai além do esporte e atua como ferramenta impulsionadora e de incentivo a uma transformação social para crianças e adolescentes. Esse é o espírito da Sociedade Esportiva de Jardim América (Seja), fundada em 2007 pelo treinador Márcio da Rocha, de 49 anos, no bairro de Jardim América, Zona Norte do Rio.
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O projeto tem cerca de 60 meninos matriculados, divididos nas categorias Sub 11 e Sub 13, e conta com uma equipe de seis pessoas: três técnicos, um treinador de goleiro, um preparador físico e um roupeiro.
Bam, como o treinador é conhecido, era auxiliar de produção em uma fábrica de fogões industriais e trabalhou como ajudante dos professores do Centro de Formação de Atletas Andrade Neves (Cefaan). Foi quando surgiu o interesse de criar o próprio projeto, para tirar as crianças da rua e focar a atenção delas em algo especial, como o esporte.
“O Seja é resultado de muito amor pelo esporte e pelo meu bairro, pretendia fazer algo que pudesse mudar a vida dos meninos da nossa comunidade. Queria oferecer uma atividade de qualidade para crianças e adolescentes. “Em uma partida de futebol de rua, as pessoas se relacionam e criam vínculos. O Seja busca levar essa energia para o campo e para os alunos”, comenta Bam. Com a ajuda do irmão e de alguns amigos, conseguiu arrecadar fundos para pôr a ideia em prática.
O projeto é custeado por comerciantes e apoiadores. O campo de treinamento do Seja fica na rua Franz Liszt, na praça do Relógio, ao lado do Posto de Saúde de Jardim América. O bairro, que tem acesso pela Avenida Brasil e pela Rodovia Presidente Dutra, conta com dez escolas públicas. É obrigatório que os meninos do projeto estejam matriculados na escola, e com boas notas.
A manicure Jaqueline Vieira, de 36 anos, conta que o amor que ela e o marido têm por futebol transcende para os quatro filhos, que também passaram a gostar e querer praticar o esporte. O mais velho, Iury Vieira, de 17 anos, foi aluno do Seja por nove anos: “Iury era introvertido, não era muito comunicativo. Durante a permanência no projeto, percebi o quanto ele se desenvolveu, fez amizades, aprendeu a socializar e a ter mais disciplina”.
Em 2021, o caçula, Tiago Vieira, de 12 anos, foi um dos 25 escalados para a Copa Zico, campeonato de integração para equipes de projetos sociais, comunidades e colégios. Foi um momento especial e emocionante quando Jaqueline viu o nome do filho na lista divulgada pela comissão:
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“Eu chorei, olhei para ele e nos abraçamos, foi muito gratificante. Parecia que eu era mãe de um jogador convocado para a Seleção Brasileira. Foi uma mistura de emoções, ansiedade e depois muita felicidade. Eu me senti a mãe de um Neymar, imaginei a emoção que as mães dos jogadores profissionais devem sentir quando os seus filhos são escalados”.
Na edição de 2008 da Copa Zico, o time chegou à final do campeonato, disputado no Estádio do Maracanã. Bam conta: “Combinamos que ganhar não era a prioridade, o foco era a experiência que todos os alunos teriam de jogar no emblemático palco de duas finais de Copa do Mundo”. O estudante Marcos Garrido, ex-aluno, de 26 anos, lembra que na época não entendeu a decisão. Hoje, elogia:
“Eu tinha 13 anos, era um dos titulares do time e era muito competitivo, queria ganhar o jogo. Hoje, com mais maturidade, entendo a decisão da comissão e acredito que foi muito nobre abdicarem de um possível título para proporcionar uma experiência legal para todos”, afirma Marcos.
Em dezembro passado, o projeto foi campeão invicto com a categoria sub 11 na Copa Dinamite, organizada pela Liga Rio Copa, já o sub 13 ficou em terceiro lugar na classificação geral. Em 2022 a expectativa é conseguir novos patrocínios e competir na Copa Zico, na Copa Light, na Copa RVB e na Copa Dinamite.
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Adilson do Santos, de 49 anos, o Toca, é agente de jogadores de futebol e treinador do Seja. “É muito gratificante fazer parte de um projeto que oferece oportunidades e colabora na formação de valores de crianças e adolescentes”, diz. “É importante incentivá-los a focar nos treinos para evoluir cada vez mais”.
* Heloiza Batista, estudante de Jornalismo da PUC-Rio, com orientação de professores da universidade e revisão final de Veja Rio.