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Ações locais mostram como é possível fazer um Rio mais verde e sustentável

Enquanto países discutem como frear o aquecimento global, iniciativas dos setores público e privado começam a colocar o Rio na trilha da sustentabilidade

Por Pedro Tinoco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 Maio 2021, 19h46 - Publicado em 21 Maio 2021, 06h00
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  • Convocada pelo presidente americano Joe Biden, em abril, a Cúpula de Líderes sobre o Clima reuniu representantes de quarenta países em nome do combate ao aquecimento global. O evento virtual de forte peso simbólico inspirou discursos em defesa de ação mais contundente até de quem não costuma se empolgar com a causa. O debate, fundamental, vai se ampliar na Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (COP26), marcada para novembro, na Escócia. Tocado por governos em escala global — com mais ou menos ênfase, como se sabe —, o tema também é abraçado pela iniciativa privada e pela sociedade civil, que muitas vezes, no plano mais local, alcançam feitos louváveis. O Rio não está alheio à onda verde, que embala projetos por toda parte e chacoalha o mundo dos negócios.

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    A sigla da vez, ESG — ou ASG, na versão traduzida para o português —, refere-se ao tripé “ambiental, social e governança”, um conceito oriundo do mercado financeiro que uma boa leva de empresas começa a perseguir. Afinal, medem-se por esse termômetro práticas sustentáveis que são hoje determinantes para estipular riscos e o retorno de investimentos. Em termos práticos, não cola mais ficar apenas na propaganda, ou até mesmo fabricar um produto sustentável sem que o negócio se comprometa com o tal tripé do bem.

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    “Isso é certamente um incentivo a mais para o caminho que já buscamos há tempos”, reconhece Renata Leta, diretora de marketing do grupo Zona Sul e filha do fundador, o imigrante italiano Francesco Leta (1926-2010). O patriarca, mesmo nos primórdios, demonstrava a consciência que muita gente só atinge agora: promovia o reaproveitamento de bagaços de laranja na produção de ração — um recurso que, aprimorado, é ainda adotado.

    O projeto Hortas Cariocas, subordinado à Secretaria Municipal de Meio Ambiente, mantém espaços de cultivo em 49 localidades da cidade — a produção de hortaliças passou das 80 toneladas em 2020 e é toda doada em tempos de pandemia
    O projeto Hortas Cariocas, subordinado à Secretaria Municipal de Meio Ambiente, mantém espaços de cultivo em 49 localidades da cidade — a produção de hortaliças passou das 80 toneladas em 2020 e é toda doada em tempos de pandemia – (Jefferson Teófilo/SMAC/Divulgação)
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    Atenta aos novos e vigorosos ventos, a rede de mercados foi além. Com 44 unidades — 43 no Rio e uma em Angra dos Reis —, uma loja conceito da marca, inaugurada na Barra em 2019, serve de vitrine para ações na seara da sustentabilidade, sempre ela. Placas solares fornecem 30% da energia local, inclusive ao recém-chegado ponto de abastecimento de carros elétricos. No entorno do estacionamento, 75 bananeiras produzem cerca de 20 quilos de fruta por semana, vendidos por lá mesmo. Do galinheiro, onde o macho Rafinha reina entre 200 fêmeas, ovos chegam rapidamente às gôndolas ou entram no preparo dos produtos de confeitaria. Outra atração que dispensa custo — e geração de carbono — com transporte é o contêiner refrigerado onde, em parceria com a empresa MightyGreens, são cultivados cogumelos. Em alguns endereços da cadeia, a fachada verde diminui a temperatura interna; em outros, há dispensa total de sacolas plásticas e em todos atuam profissionais especializados em reciclagem — no dia 1º de junho será inaugurada uma central de resíduos recicláveis da rede.

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    O mercado está ultrassensível a essa natureza de práticas. “A cartilha ambiental, social e de governança já vinha sendo aplicada nos processos corporativos. O que a ASG traz é uma forma organizada de, a partir de determinadas métricas, direcionar os grandes investimentos, a concessão de créditos e financiamentos”, explica Jorge Peron, gerente de sustentabilidade da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro. Há sete meses, a Firjan criou um grupo de trabalho dedicado ao tema, formado por dez das maiores empresas presentes no estado — corporações como Bayer, Gerdau, L’Oréal, Petrobras e Vale.

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    “Quatro delas investiram juntas, nos últimos cinco anos, 689 milhões de reais em ações e projetos de responsabilidade social corporativa e de meio ambiente”, calcula Jorge Peron. “É um caminho sem volta. Ações ou títulos ASG são muito mais rentáveis que as carteiras tradicionais. O mercado está dizendo: ‘Olha só, o dinheiro quer seguir o caminho da sustentabilidade, está sendo utilizado para mudar o planeta, precisa encontrar empresas que dividam esses propósitos”, enfatiza.

    O grupo de voluntários Arboristas Urbanos concentra seus esforços na Zona Norte, onde o déficit verde é maior e favorece o surgimento de ilhas de calor. Parcerias de coletivos com a Fundação Parques e Jardins resultaram no plantio de 400 árvores desde janeiro
    O grupo de voluntários Arboristas Urbanos concentra seus esforços na Zona Norte, onde o déficit verde é maior e favorece o surgimento de ilhas de calor. Parcerias de coletivos com a Fundação Parques e Jardins resultaram no plantio de 400 árvores desde janeiro – (Murilo Magalhães/Arboristas Urbanos/Divulgação)

    A sacudida na lógica do mundo corporativo é um impulso e tanto para a sustentabilidade, assim como o envolvimento do poder público e da sociedade — sem os quais a roda da mudança emperra. No setor público, o programa Hortas Cariocas, ligado à Secretaria Municipal de Meio Ambiente — uma raridade por ter resistido anos a fio às trocas de poder —, está presente em 49 localidades da cidade. A produção, no ano passado, foi de 82 toneladas, 10 a mais do que a colheita de 2019. No projeto, 188 hortelões são remunerados para cuidar das plantações e a produção, em tempos de pandemia, tem sido toda doada às comunidades.

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    “É um sistema que promove desenvolvimento local e segurança alimentar, com geração de empregos verdes”, avalia Eduardo Cavaliere, o secretário da pasta ambiental. Em Manguinhos, espalhada por área equivalente a quatro campos de futebol, fica a maior horta comunitária urbana da América Latina. Criada em 2013, no espaço onde antes existia uma cracolândia, beneficia 800 famílias por mês com batata-doce, quiabo, couve e demais hortaliças.

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    Em tempos de normalidade, parte da produção mensal de 2 toneladas é vendida na Ceasa. A prefeitura planeja investir, em 2021, 1,68 milhão de reais no programa, verba 50% superior à do ano anterior. Também está nos planos a ampliação da horta do Parque Madureira, até 2024, em 5 hectares — o que, aliás, vai tirar de Manguinhos o troféu de maior equipamento do gênero na América Latina. Um outro bom exemplo de contribuição para um Rio sustentável é também uma sólida demonstração de cidadania.

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    Por conta própria, coletivos de voluntários procuram reduzir o desequilíbrio na arborização da cidade plantando novas mudas onde elas fazem falta. A atuação desses grupos chamou a atenção da Fundação Parques e Jardins. Assim, a parceria entre cariocas dispostos a ajudar e a fundação, que entra com o know-how e o fornecimento das plantas certas para os lugares certos, fez com que praticamente não houvesse mais perdas. Antes, sem o apoio dos coletivos, 70% das espécies não vingavam.

    Aproveitamento de energia solar, produção no próprio ponto de venda, entregas com transporte não poluente e logística de lixo zero são algumas das frentes abertas pelo supermercado Zona Sul. No dia 1º de junho, a marca inaugura a sua Central de Resíduos Recicláveis
    Aproveitamento de energia solar, produção no próprio ponto de venda, entregas com transporte não poluente e logística de lixo zero são algumas das frentes abertas pelo supermercado Zona Sul. No dia 1º de junho, a marca inaugura a sua Central de Resíduos Recicláveis – (Léo Lemos/Divulgação)

    Provando que da união vem a força, desde o início do ano a cooperação resultou em mais de 400 árvores plantadas. Há uma década, o biólogo Alessandro Magalhães de Oliveira criou nas redes o perfil Penha Verde, dedicado a promover ações de educação ambiental no bairro onde vive e foi criado. Em 2017, fundou o grupo Arboristas Urbanos, que atualmente reúne 200 ativos voluntários e tem mais de 10 000 seguidores na internet. “Fazemos parte de uma onda verde, existem cerca de noventa coletivos como o nosso na cidade”, celebra Oliveira.

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    Os Arboristas Urbanos focam sua atuação na Zona Norte, onde os problemas relacionados à escassez de árvores são maiores. A ausên­cia de verde favorece a poluição e contribui para a formação de ilhas de calor — a diferença de temperatura entre uma vizinhança com menos vegetação e outra mais arborizada pode chegar a 15 graus. “Árvores prestam um serviço ambiental que nenhuma empresa conseguiu oferecer, e fazem isso de graça”, ensina o biólogo. E você, o que anda fazendo por uma cidade sustentável?

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