Os últimos anos foram de penúria absoluta. Instalado na Quinta da Boa Vista, antiga residência da família real, o Jardim Zoológico do Rio passou um bom tempo com sérios problemas em sua estrutura. Animais trancafiados em jaulas com grades enferrujadas, bichos expostos ao sol sem nenhuma cobertura e espaços invadidos por urubus se tornaram imagens corriqueiras por ali. A situação de abandono chegou ao ápice em 14 de janeiro, quando o Ibama interditou o local, embargando o acesso dos visitantes até a conclusão das principais obras de adequação ambiental. Essa missão ficou nas mãos do Grupo Cataratas, responsável pelo Parque Nacional do Iguaçu, pela EcoNoronha e pelo AquaRio, que ganhou a licitação para administrar o local pelos próximos 35 anos. Em caráter emergencial, a reforma inicial, feita para a reabertura do parque, no último dia 8, durou dois meses e custou 2 milhões de reais. “Antes não havia nenhum tipo de investimento lá dentro. Os animais tinham apenas o básico, ou seja, alimentação e medicação. Agora estamos com novas perspectivas”, revela o biólogo Rodrigo Costa, funcionário do RioZoo há mais de oito anos.
› Patrulha dos ares: a falcoaria foi usada pelo instrutor Leandro Mautone (foto maior) para afastar os urubus que invadiram a Passarela da Fauna
No intuito de ampliar as atividades ligadas à educação ambiental, o RioZoo adotou a falcoaria, prática milenar de caça com aves de rapina, considerada, desde 2010, patrimônio imaterial da Unesco. Primeiro, a técnica foi implementada pelo mineiro Leandro Mautone, que passou oito anos na Itália dedicando-se à atividade, para afugentar os quase 130 urubus que habitavam a região da Passarela da Fauna e disputavam as refeições das antas, dos cervos e das capivaras que ali vivem. Formada por sete pássaros, a equipe de patrulha dos ares ainda se apresenta diariamente ao público, em dois horários. O show tem explicações históricas sobre a técnica e a demonstração de voo de diversas aves, entre elas o gavião asa-de-telha Rubi, a coruja-branca Luky e o filhote de carcará Catatau. Enquanto algumas áreas ainda se encontram isoladas do público, caso do aquário, as crianças ganharam dois parquinhos, tirolesa, muro de escalada e uma fazendinha onde é permitido alimentar os bichos e passear de minipônei. Essas atividades, porém, não estão incluídas no valor do ingresso, e seu preço varia de 7 a 12 reais.
› O novo Viveirão: a área, que estava fechada para o público, reabriu no último dia 8 — os visitantes puderam então andar em meio a espécies exóticas de pássaros
Abrigando cerca de 1 300 espécies em uma área de 138 000 metros quadrados, o zoo passou a contar com itens básicos para a qualidade de vida dos animais. Um novo sistema de filtragem garante água limpa e com salinidade controlada. Se antes muitos bichos viviam em cubículos, sozinhos e ociosos, agora as jaulas têm outra configuração, com projeto de paisagismo e dimensões maiores. “Os bichos começaram a fazer atividades físicas cotidianamente, o que ajuda a desenvolver a capacidade cognitiva”, aponta o biólogo. As novidades incluem ainda a volta dos leões, com a chegada de um casal de felinos vindo do Zoológico de Santa Catarina, a reabertura do Viveirão, onde o público pode passear em meio a espécies exóticas de pássaros, além da instalação de food trucks e de pontos de autoatendimento para facilitar a compra de ingressos.
› Água limpa: a instalação de um sistema de filtragem e salinização deixou o tanque dos ursos em condições favoráveis
Apesar de essas novidades já terem modificado o antigo cenário, as grandes reformas ainda estão por vir. O contrato de licitação assinado entre a prefeitura e o Grupo Cataratas prevê o investimento de mais 65 milhões de reais, ao longo dos próximos dois anos, destinados às obras que terão início no segundo semestre. A ideia é seguir tendências como o enclausuramento reverso, já visto no zoo de San Diego, na Califórnia, um dos melhores do mundo. As grades serão substituídas por estruturas transparentes que permitirão novos ângulos de observação. Os felinos, por exemplo, serão observados a partir de tubos de acrílico. Já os elefantes ganharão uma piscina translúcida e poderão ser admirados sob a água. “Contratamos um dos melhores designers do mundo para reduzir ao máximo a necessidade de usar jaulas”, revela José Roberto Scheller, diretor da instituição. O projeto ainda precisa da aprovação da prefeitura e tem até outubro de 2018 para ficar pronto. ß