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Roberto Medina se irrita com as dificuldades do Rio

Idealizador do Rock in Rio, o empresário critica o imobilismo geral e diz que se nada mudar esse é o último festival que realiza no país

Por Daniel Hessel Teich e Sofia Cerqueira
Atualizado em 24 jul 2017, 18h20 - Publicado em 21 jul 2017, 13h38
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  • Em meio aos preparativos para o Rock in Rio, em setembro, o empresário Roberto Medina dedicou os últimos meses a uma missão: um ambicioso plano para o setor de turismo e eventos, com o objetivo de reverter o caos econômico que tomou a cidade. Apesar da intensa atividade, Medina não esconde a irritação com o imobilismo e a falta de reação dos cariocas. “O que me incomoda é a apatia da sociedade como um todo, e aí incluo políticos, empresários e o cidadão comum”, disse em entrevista a VEJA RIO.

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    A crise no Rio tem sido muito mais severa que no resto do país. O que aconteceu aqui para que esse caos se instalasse no estado?

    Roberto Medina – O Brasil vive uma enorme crise política e econômica, e de fato a situação no Rio é mais aguda. Mas, mais que discutir as causas, acho que o importante é superar o problema. O que me incomoda é a apatia da sociedade como um todo, e aí incluo políticos, empresários e o cidadão comum. Quantas mortes mais serão necessárias para que as autoridades daqui acordem e tomem providências na área de segurança? Agora podemos resolver com bom-senso e equilíbrio. Mais tarde essa situação será solucionada pelas ruas, e as consequências serão muito piores.

    O senhor faz parte de um grupo de notáveis que se dispuseram a colaborar com a prefeitura. Entretanto, um dos membros desse grupo, o Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, ex-diretor superintendente da TV Globo), abandonou a iniciativa há cerca de um mês. O senhor continua confiante?

    Roberto Medina – Nós somos apenas pessoas indignadas que não aceitam a apatia e, por isso, criamos um plano concreto para salvar a economia do Rio através do turismo. Ficar sem o Boni é uma perda séria. Há momentos em que também tenho vontade de sair desse debate. Tenho muitas tarefas a cumprir. Mas creio que o Rio precisa de cada um de nós.

    Até que ponto o turismo pode ajudar a vencer a crise?

    Roberto Medina – Essa é a única forma de sairmos rapidamente do buraco. Não há mais nada a ser feito por aqui neste momento. Um estudo recente da Fundação Getulio Vargas revelou que o Rock in Rio injeta 1,2 bilhão de reais na economia. A mesma pesquisa mostra que, se você acrescentar um dia à permanência dos turistas no Carnaval e no réveillon e montar um calendário estruturado de eventos, nossa receita anual com turismo pode aumentar em 20%, coisa de 6,5 bilhões de reais.

    Mas, se os números são tão evidentes, por que o turismo é sempre visto como um setor menor da economia?

    Roberto Medina – Os políticos perguntam aos eleitores o que é importante para eles. A resposta é sempre a mesma: segurança, saúde e educação. Então é óbvio que eles concentrem suas propostas nessas áreas. Por outro lado, a gente nunca levou minimamente a sério o turismo no Brasil. Isso faz com que o investimento nesse setor seja associado com gastos supérfluos. Só que ninguém sabe que dez turistas a mais na cidade geram receita suficiente para custear um novo leito de hospital.

    Seu plano prevê reforço da segurança nas áreas nobres em um momento em que as mais afastadas se tornaram terra de ninguém. Isso não pode levar a uma rejeição do projeto?

    Roberto Medina – Ao apresentarmos nosso plano, a primeira pergunta que ouvimos foi: e a periferia? Quando se busca alavancar a entrada de dinheiro, é preciso, antes de mais nada, garantir a segurança nas áreas onde as pessoas que trarão esses recursos vão circular. Só assim o dinheiro começa a entrar. É claro que, em dado momento, as áreas mais distantes receberão seus reforços. Mas, em uma cidade com a economia em frangalhos, você tem de arrecadar e investir conforme o dinheiro entra, senão é tudo conversa fiada.

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    O Brasil tem 43 bilionários na lista da Forbes, quinze dos quais nasceram ou moram no Rio. O senhor não acha que eles poderiam colaborar mais para ajudar a solucionar nossos problemas?

    Roberto Medina – Há muita gente que faz coisas, que contribui, mas anonimamente. Eles preferem não aparecer, talvez até por medo. Mas eu concordo, os empresários poderiam contribuir mais. E acho que essa questão se estende também a jovens executivos, a profissionais liberais. Imagino que, com tanta corrupção, tanta coisa errada, as pessoas prefiram viver em um mundo à parte, confortável, com seu dinheiro, com seu blindado.

    O fato de o senhor ter sido sequestrado torna a segurança ainda mais importante na sua avaliação?

    Roberto Medina – O sequestro, claro, mexeu muito comigo. Mas eu não sou um homem de ficar empunhando bandeiras. Já passou, não vou ficar remoendo. A gente está vivendo neste lugar que é fantástico, com um povo que, de maneira geral, é de uma generosidade incrível. Só que a gente não tem como explorar isso. Nós tivemos uma sequência de governos absolutamente incompetentes ao longo do tempo. E o que houve de bom foi um soluço dentro de um quadro de mais de trinta anos.

    O senhor votou no ex-governador Sérgio Cabral?

    Roberto Medina – Votei nele duas vezes para governador, como a maioria das pessoas. O Cabral para mim é hoje um exemplo claro dessa coisa doida da busca desmedida por dinheiro. As pessoas viraram sacos vazios, que precisam de somas inacreditáveis para se manter. Uma coisa sem nexo, pois ninguém vai conseguir gastar tudo isso. Esses políticos e negociantes são colecionadores de dinheiro. Antes era milhão, agora é bilhão.

    O senhor critica a apatia do cidadão comum.O que é possível fazer para mudar isso?

    Roberto Medina – Aqui no Rio temos uma situação muito complicada. A turma da inteligência de Ipanema, Leblon, Gávea, Jardim Botânico acha a esquerda divertida. Ou, por princípio, virtuosa. Como já vimos, esquerda e direita são tudo a mesma coisa. Mas esse pessoal ainda defende a esquerda porque rende um papo melhor no botequim. Essas pessoas são a base transformadora da opinião pública, e poderiam sustentar candidatos sérios, mas preferem fazer gracinha com o voto.

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    O Rock in Rio é um fenômeno em Portugal, país que tem atraído muitos brasileiros. O senhor já pensou em se mudar para lá?

    Roberto Medina – Vou dizer uma coisa que nunca disse a ninguém: se nada mudar neste país, esse será o meu último Rock in Rio. Não faz sentido ficar aqui. E não é para ir para Portugal, é para sair daqui. Não consigo conviver com tanta incompetência, tanta falta de cidadania. Às vezes me sinto sozinho. O que a gente tem de fazer, todos nós, é reivindicar mudanças, ajudar a resolver a questão de segurança pública para valer. É difícil, mas temos de tentar.

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