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A rota da cachaça

Alambiques do interior do estado se destacam pela produção artesanal da bebida, conquistam mercado e atraem visitantes

Por Carla Knoplech
Atualizado em 5 dez 2016, 15h29 - Publicado em 1 ago 2012, 17h40
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cachaca-01.jpg (Redação Veja rio/)
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Ano após ano, milhares de viajantes embarcam rumo à França e à Itália para conhecer de perto algumas das vinícolas mais famosas do mundo. Aliando o passeio por belas paisagens à cultura da região, o enoturismo começa a fazer escola por aqui. Só que, no lugar dos vinhos, o que move os turistas pelo interior do estado do Rio é a cachaça. Com setenta produtores cadastrados, a rota em torno da caninha reúne propriedades localizadas de norte a sul do nosso mapa. Encravados na costa verde, no litoral oeste, estão alguns dos alambiques mais antigos do país, um deles com mais de 200 anos de atividade. Já na região do Vale do Café, no sul fluminense, municípios como Valença, Rio das Flores e Miguel Pereira abrigam engenhos responsáveis por marcas premiadas que, assim como os bons tintos, passam anos em barris de carvalho para envelhecer. O mesmo acontece em Nova Friburgo, com a tradicional Nega Fulô, e no extremo norte, com a novata São Miguel, fabricada há apenas três anos. “A cachaça deixou de ser marginalizada para ganhar status de bebida nobre, instigando as pessoas a provar novos rótulos e conhecer mais a fundo origens e características”, afirma Kátia Espírito Santo, presidente da Associação dos Produtores do Estado do Rio de Janeiro.

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Enquanto São Paulo, Pernambuco e Ceará se destacam pela produção industrial da bebida, o Rio ganha mercado com as versões artesanais, título dado aos exemplares elaborados sem aditivos químicos, extraídos em pequenas propriedades de administração familiar. É o caso da cachaça Maria Izabel, elaborada em uma região conhecida como Corumbê, próximo a Parati. Em um modesto sítio, de apenas 3 hectares, a produtora que deu seu nome à marca planta e colhe a cana-de-açúcar e comanda todo o processamento da bebida, feita com a receita criada pelo seu trisavô e passada de geração em geração. Tudo à disposição dos curiosos, que podem fazer uma visita guiada pela área rural, com os alambiques de cobre, os tonéis de jequitibá e carvalho, e ainda provar os diferentes sabores. Uma das cachaças, de tonalidade azulada, graças às folhas de tangerina misturadas durante a destilação, é feita em pequenas quantidades e, por isso, servida apenas no local.

Atento ao filão turístico, Haroldo Carneiro da Silva, da cachaçaria São Miguel, investiu em uma recepção à altura para contar a história da aguardente, que remonta à época da colonização portuguesa, quando o cultivo da cana-de-açúcar deslanchou como a principal atividade extrativista do país. Em Quissamã, ele construiu uma torre de tijolos idêntica àquela que havia no engenho central da cidade, já desativado. Depois, montou uma peça de teatro sobre a trajetória da região, que desde a primeira metade do século XVII mantém forte tradição na produção canavieira. O programa só termina depois do almoço, com pratos e sobremesas típicos e a degustação dos rótulos fabricados na propriedade. Como manda o decreto que regula a bebida, todos eles têm graduação alcoólica elevada, entre 38% e 48%. “Desde que assumi o engenho, que está na minha família há sete gerações, percebi que havia uma demanda por esse tipo de atração. As pessoas batiam na nossa porta pedindo para entrar e decidimos nos preparar para recebê-las”, afirma o empresário.

Recentemente promovida a Patrimônio Histórico Cultural do Estado do Rio, a cachaça também recebeu tratamento especial no mercado externo. Desde abril, graças ao acordo firmado entre o Brasil e os Estados Unidos, só o produto fabricado no nosso país poderá ser comercializado com esse nome na terra de Obama. A medida significará um aumento expressivo nas exportações e ajudará a posicionar a branquinha na rota do turismo internacional, assim como aconteceu com os champanhes franceses e os brunellos italianos, quando passaram a contar com o selo de denominação de origem, criado pelos seus respectivos governos. Para abrigar o legado da aguardente, a terceira bebida destilada mais consumida no mundo e a primeira por aqui, está sendo projetado o Museu Brasileiro da Cachaça. Com previsão de ser instalado no interior do estado, o local pretende aproximar o público de um artigo genuinamente nacional. O que não falta são histórias para contar e rótulos para beber.

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