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Terceiro lugar no ranking nacional do roubo de fios, Rio sofre sequelas

Aumento crescente do furto de cabos à base de cobre prejudica serviços essenciais, como telefonia e transporte público, atrapalhando a vida do carioca

Por Ines Garçoni
20 Maio 2022, 06h00
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  • Do Oiapoque, no Amapá, ao Chuí, no Rio Grande do Sul: essa é a vastidão da distância que se poderia cobrir com os 4 100 quilômetros de cabos e fios de cobre roubados de ponta a ponta do país, segundo levantamento do setor de telecomunicações em 2021. No ranking dos estados que mais sofrem com o crime, o Rio de Janeiro desponta em lugar de destaque, na terceira posição, atrás apenas de São Paulo e Paraná. O expressivo volume surrupiado é capaz de paralisar serviços básicos e fundamentais. Prejudica o funcionamento de hospitais, os sistemas de transporte público e as redes de acesso a internet, energia elétrica e telefonia móvel. E nada indica que a curva vá se reverter nos próximos tempos. “Com a tendência de alta do valor do cobre no mercado internacional, o problema deve persistir e se agravar”, avalia Daniela Martins, gerente de Relações Institucionais da Conexis, entidade que reúne as operadoras de telefonia no país.

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    Há exemplos em profusão da cara de pau dos que prejudicam o andamento de tantas engrenagens da vida urbana. A rede de trens da SuperVia, por exemplo, no ano passado viu quadruplicar a quantidade roubada dos seus trilhos no Rio: desapareceram ao todo 41 quilômetros, desfalque que levou à interrupção de cerca de 2 000 viagens ao longo dos meses, afetando a vida de 4 milhões de passageiros, de acordo com a própria concessionária. Em janeiro, no Hospital Clementino Fraga Filho, o Hospital do Fundão, da UFRJ, um vultoso furto deixou a emergência sem ar-condicionado, o que obrigou a área a ser fechada e os pacientes, removidos. A população vem sendo castigada em grande escala por esse tipo de crime que atrapalha as mais essenciais atividades cotidianas. No caso das redes de telecomunicações — de longe o alvo preferencial dessa natureza de roubo —, 6 milhões de usuários penam com a falta de internet a cada ano, conforme dados da Conexis. “São pessoas que ficam sem poder chamar a polícia, os bombeiros, a emergência médica, sem acesso a atividades bancárias, comerciais, e sem poder fazer negócios”, lista Daniela.

    Apreendidos: cerca de 200 quilos de cobre sem procedência foram encontrados em ferro-velho da Zona Norte no início do mês -
    Apreendidos: cerca de 200 quilos de cobre sem procedência foram encontrados em ferro-velho da Zona Norte no início do mês – (Fotos Hector Santos/Divulgação)

    Entidades como a Federação Nacional de Instalação e Manutenção de Infraestrutura de Redes de Telecomunicações e de Informática (Feninfra) e a própria Conexis têm pressionado as autoridades a enfrentar a questão, seja pela via da aprovação de leis com penas mais rígidas, seja pela formação de uma cruzada reunindo órgãos estaduais e federais. Há sinais de que, quando o assunto vem à baila, os bons resultados aparecem. Após ações da Polícia Civil, foram apreendidas no ano passado cerca de 300 toneladas de materiais na Operação Caminhos do Cobre. “Mais de 200 ferros-velhos foram fiscalizados, inclusive com a interdição judicial, e cerca de sessenta pessoas ligadas a todas as esferas do esquema criminoso acabaram presas, uma cadeia que abarca furtadores, receptadores, donos de estabelecimentos e de recicladoras, além de funcionários de empresas consumidoras do produto final”, afirmou, em nota, a Polícia Civil.

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    Por se tratar de um crime de difícil flagrante ou denúncia — muitas vezes, basta o ladrão subir e descer de um poste de rua na surdina, sem chamar atenção de ninguém —, a investigação mira sobretudo os receptadores, estes mais visíveis. Na hora do furto, entram em ação desde os chamados “ladrões de oportunidade”, que atuam ocasionalmente, até quadrilhas organizadas e armadas, às vezes constituídas de milicianos. Os ferros-velhos são a primeira parada, seguidos de pequenas e grandes empresas de reciclagem. Nessa etapa, derretido, o cobre perde sua rastreabilidade, tornando-se impossível saber de onde o material foi retirado. Por fim, ele volta ao mercado, clandestinamente. “Empresas ilegais de internet, por exemplo, utilizam esses cabos”, conta Vivien Suruagy, presidente da Feninfra, que enfatiza: “No Rio, a presença das milícias aprofunda o problema, que tende a se agravar com a chegada da infraestrutura do 5G”.

    Emergência fechada: o furto de cabos paralisou o Hospital do Fundão em janeiro -
    Emergência fechada: o furto de cabos paralisou o Hospital do Fundão em janeiro – (Acervo Coordcom UFRJ; HUCFF UFRJ/Divulgação)
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    A implantação da nova tecnologia exigirá a instalação de uma quantidade sete vezes maior de antenas no país, o que demandará mais vigilância — esta que hoje já não dá conta de tantas ocorrências. “Há casos em que a milícia sequestra a torre e cobra pela utilização do equipamento que não é dela ou a desliga e cobra para reativá-la. Aí as operadoras não pagam e perdem”, relata Vivien, da Feninfra. Não é apenas o Rio que sofre nas mãos de tais quadrilhas. No Rio Grande do Sul, a incidência do delito avançou 75% em apenas um ano. Há nove meses, o governador Cláudio Castro sancionou uma lei que obriga os ferros-­velhos fluminenses a cooperar com a Polícia Civil, mas a corporação não quis comentar se a exigência vem sendo cumprida. Espera-se do poder público um bem orquestrado esforço para varrer os ladrões de cobre de tão lindo cenário.

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    Preço em alta

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    Por que o cobre está na mira dos ladrões

    cobre
    (Volker Pape/EyeEm/Getty Images)

    Considerado um mineral de importância estratégica num mundo que enfrenta graves questões climáticas, o cobre é uma commodity cujo preço tem aumentado significativamente no mercado global, tendência que não dá sinais de arrefecimento. “O cobre tem papel-chave na adoção de energias mais limpas, que é para onde o mundo está caminhando”, lembra o economista e sócio líder de mineração da consultoria KPMG, Ricardo Marques. Um carro elét

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    rico, por exemplo, embute 60 quilos do metal em sua fabricação, enquanto um tradicional emprega 22. Um ônibus elétrico requer 400 quilos. “A virada verde já está pressionando muito a demanda”, explica.

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    Em abril, a tonelada do cobre chegou a valer quase 10 000 dólares, e um ferro-velho no Brasil paga entre 40 e 70 reais o quilo. Para completar, a oferta do mineral — do qual o Chile é o campeão em produção e a China, o maior consumidor — não deve crescer tão cedo, ao contrário. Como a exploração das minas de cobre impacta o meio ambiente, isso traz novos e mais complexos desafios às mineradoras. Pesa ainda o fato de a atividade exigir tempo. “No Brasil, o ciclo entre a descoberta de uma jazida e o início da extração pode durar uns dez anos”, estima o economista. E dá-lhe subida nos preços.

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