Desde o verão passado, a paisagem da orla ganhou um novo colorido. As laranjinhas, nome pelo qual são chamadas as bicicletas do sistema de aluguel da prefeitura, conquistaram a simpatia de turistas e moradores como meio de transporte e lazer. Com oito meses de operação, o programa conta com 58 estações distribuídas por quinze bairros e ultrapassou a marca de 700 000 viagens. Apesar do seu indiscutível sucesso, um obstáculo pode comprometer o bom funcionamento do serviço: nos últimos três meses, dezenove veículos foram furtados. A maioria dos casos registrados obedece a um mesmo roteiro. O bandido ataca durante a madrugada, quando a movimentação nas ruas diminui, e puxa violentamente a peça de aço que trava a bicicleta. “Estamos pesquisando mecanismos ainda mais eficazes de segurança para combater os incidentes”, afirma Ângelo Leite, presidente da Serttel, empresa responsável pelo Bike Rio, reencarnação de uma iniciativa semelhante, lançada em 2009, que fracassou justamente por causa do alto índice de roubos.
Por enquanto, o bairro com a maior incidência do crime é o Leblon, com oito ocorrências, seguido por Copacabana e Catete, que tiveram três registros cada um. Mas outras localidades também vêm sofrendo com a ação dos bandidos. Na Gávea, em um intervalo de apenas trinta dias, duas bicicletas tiveram as travas serradas exatamente no mesmo ponto. A repetição do método é um indicativo de que, provavelmente, ambas foram levadas pela mesma pessoa. A perícia, no entanto, não encontrou vestígios que pudessem determinar se o crime foi cometido por um ladrão ou uma quadrilha. “As queixas foram feitas só no dia seguinte e não havia testemunhas”, diz o delegado da 15ª DP, Fábio Barucke.
Cada unidade levada representa um prejuízo de 800 reais para a empresa que administra o serviço. Embora não seja barata, dificilmente a laranjinha pode ser repassada ao mercado negro. Trata-se de um modelo facilmente identificável e com um design criado exclusivamente para o Bike Rio. Uma das características mais perceptíveis é o quadro, peça responsável por acoplar várias partes do veículo, como o guidom, o selim e as rodas. Feito de alumínio, ele possui um design ondulado.
Apesar de preocupante, o índice de furtos no Rio, em torno de 3,5% (veja o quadro), é muito inferior ao de outras metrópoles que oferecem o mesmo tipo de aluguel. Nos dois primeiros anos de funcionamento do Vélib, em Paris, registraram-se danos e avarias em 80% das 20?600 bikes disponíveis. A média de bicicletas levadas chegou a 22 por dia, sendo que o pior momento aconteceu em julho de 2009. Naquele mês, 8?000 delas sumiram das estações e outras 16?000 foram depredadas. Para enfrentar o problema, a prefeitura da capital francesa implementou campanhas educativas, que reduziram em 46% a quantidade de roubos e consertos. Hoje, o programa é motivo de orgulho para os parisienses, contando com 224?000 usuários cadastrados e um total de 130 milhões de viagens feitas nos últimos cinco anos. Lançado no mesmo ano, em 2007, o Bicing, em Barcelona, na Espanha, também registra índices piores que os nossos. Desaparecem das estações da cidade catalã, anualmente, 10% de uma frota de 6?000 unidades.
Entre as alternativas aventadas para coibir a disseminação do problema por aqui, a mais provável é a instalação de câmeras nas estações. A medida foi aplicada em 2009 para impedir que vândalos continuassem a depredar a estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade na Avenida Atlântica, em Copacabana. Antes do equipamento eletrônico, o monumento havia sofrido oito ataques de marginais, número que caiu para apenas um desde que o local passou a ser vigiado. É verdade que nenhuma metrópole no mundo está imune a atos criminosos como esse, mas se espera que as autoridades também não fiquem de braços cruzados. Só assim o carioca e os turistas continuarão a desfrutar uma das melhores iniciativas implantadas nos últimos anos.