A audiência realizada no Senado, na Comissão de Direitos Humanos da Casa, na segunda (12), tinha como tema a chacina de dez sem-terra em uma fazenda no Pará, ocorrida em maio. Em meio aos debates, um comentário a respeito das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Rio, feito pelo secretário nacional de Justiça, Astério Pereira dos Santos, chamou atenção. Ex-policial militar e ex-secretário estadual da Administração Penitenciária na gestão de Rosinha Garotinho, Santos está há três meses no cargo e tem pouca visibilidade na pasta. Mas seu disparo foi barulhento. “Falta coragem política para dizer que (o projeto de UPPs) faliu”, atacou.
O programa de UPPs agoniza, é fato, mas isso acontece em razão de erros graves cometidos em sua implantação — treinamento insuficiente, exploração eleitoreira, ausência de políticas sociais e abusos cometidos contra a população das favelas, entre outros. Porém, em seu auge, em 2013, foi elogiado por órgãos respeitáveis como o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Não foram poucas as vezes em que o projeto foi comparado a iniciativas bem-sucedidas como o Plan Quadrant, da Colômbia, e o Barrio Seguro, da República Dominicana. Executados com seriedade, ambos seguem firmes, sustentados por uma ampla rede de apoio social à população mais pobre, paralelamente à intervenção policial. Aqui, o contingente de ex-autoridades e ex-poderosos hospedados no presídio de Benfica nos recorda onde foram parar os recursos que poderiam ter sido aplicados no projeto. Uma vez sob os holofotes do Senado, o secretário Santos poderia ter usado sua visibilidade para, sem politicagem, propor iniciativas que ajudassem a resgatar esse empreendimento. Seus conterrâneos agradeceriam.