Bem embaixo do Corcovado, emoldurado por uma extensa área de Mata Atlântica, um dos últimos terrenos disponíveis no alto Jardim Botânico abriga quatro modernos casarões incrustados na natureza. Valor: 18 milhões de reais cada um. O projeto é assinado pelos tarimbados arquitetos João Sousa Machado, Miguel Pinto Guimarães e Sergio Conde Caldas, sócios da Opy (pronuncia-se “ôpã”), criada com a ideia de oferecer opções diferenciadas no segmento imobiliário. Não houve lançamento oficial, nenhum panfleto circulou pelos sinais de trânsito, e o conceito foi apresentado por meio de uma simulação 3D a um seleto grupo de convidados em uma galeria de arte na Rua Dias Ferreira, no Leblon. A discrição, porém, não impediu que se tornasse conhecido e visado. “Em um mês, o boca a boca fez com que todos os imóveis fossem vendidos”, conta Conde Caldas, que entrega as chaves neste mês aos novos moradores e segue na labuta em três empreendimentos similares.
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Mesmo com a economia ainda se recuperando de tempos duríssimos, o mercado imobiliário de alto padrão se mantém aquecido no Rio. Entre março de 2021 e fevereiro de 2022, segundo indicadores da Abrainc-Fipe, o lançamento de imóveis nesse nicho avançou 278% — um feito e tanto, considerando que o espaço para construções é limitado nas áreas mais nobres, já densamente povoadas e espremidas entre a montanha e o mar. A solução, muitas vezes, tem sido erguer edificações no lugar de prédios antigos ou mesmo reformá-los, pondo em prática o famoso retrofit. “Localização é um atributo inegociável para esse público”, atesta Carlos Ferreirinha, presidente da MCF Consultoria e especialista no mercado de luxo brasileiro. O desejo das pessoas de mudar de ares e se abrigar sob um teto mais adaptado às demandas pós-pandemia — espaço para home office, zonas verdes e outras — é uma das atuais alavancas para a alta procura. “Há um desejo por mais áreas externas, com maior incidência de luz natural”, reforça Ferreirinha, envolvido no renascimento do icônico Hotel Glória.
Após a paralisação das obras, em 2013, então conduzida pelo grupo EBX, do empresário Eike Batista (cujo objetivo era pôr de pé o primeiro seis-estrelas do Brasil), o prédio foi arrematado em 2020 pelo braço imobiliário do grupo Opportunity. E seguiu aí outro rumo, dando vida ao Glória Residencial Rio de Janeiro, com 266 apartamentos de até quatro suítes, entre 70 e 314 metros quadrados, previstos para 2026. O investimento é de 400 milhões de reais — 250 milhões apenas no que está sendo chamado de “retrofit do retrofit”, já que houve deterioração de materiais da primeira intervenção. Lá dentro, ao lado de arrojadas soluções e novidades, como piscina com borda infinita, bar a céu aberto na cobertura e restaurante com cúpula de vidro, ainda será possível ver as centenárias paredes com tijolos aparentes. Elas guardam as memórias do palacete de 1920, frequentado por nomes que vão do físico alemão Albert Einstein à atriz americana Ava Gardner — esta, aliás, tomou ali um pileque monumental em 1959 e acabou convidada a se retirar. “Trata-se de um patrimônio do Rio e vamos honrar essa história”, ressalta Schalom Grimberg, sócio-fundador da SIG Engenharia, parceira no negócio.
O Glória do futuro se junta a uma série de empreendimentos luxuosos que sobem pela cidade por trás dos tapumes. A incorporadora Performance acabou de lançar o Lineu 708, na Lagoa, um prédio de fachada moderna, com serviço de concierge, área de lazer completa e amplos apartamentos que partem de 5,7 milhões de reais — este o valor do imóvel de 214 metros quadrados, quatro suítes e duas vagas de garagem. Próximo dali, o último terreno com vista para o mar do Arpoador será ocupado pela construtora Bait, com duas torres e uma gigantesca área de lazer de 4 500 metros quadrados. À época do lançamento, no fim de 2021, 90% das unidades foram vendidas em menos de doze horas. A Itten Incorporadora também conquistou compradores rapidamente e selou no lançamento o contrato de 70% das unidades na planta do Dezoitto, no Jardim Oceânico, colado à praia. Na mesma toada, a D2J entrega no próximo mês o Five Lagoa Premium, com apenas cinco unidades a partir de 3,6 milhões de reais.
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Apostando as fichas na efervescência, a Mozak trabalha atualmente em vinte empreendimentos espalhados por bairros como Leblon, Lagoa, Ipanema, Jardim Botânico e Gávea, onde se encontram os metros quadrados mais caros do Rio (veja os valores no quadro). O interesse por esses imóveis, novinhos e bem localizados, extrapola as fronteiras do município. “Grande parte do público é carioca, mas também atendemos muita gente de outros estados e até brasileiros que moram fora do país”, detalha o presidente Isaac Elehep. Segundo ele, o perfil predominante dos compradores é mais familiar, entre 45 e 55 anos, de profissionais do mercado financeiro a artistas. “Este é um nicho pouco sensível a fatores que mexem com as finanças, como inflação e crises políticas. E, com o real desvalorizado, a compra de propriedades acaba se tornando um investimento atrativo”, explica Leonardo Schneider, vice-presidente do Secovi Rio. Para ele e outros, a chacoalhada de agora é a mais intensa em uma década — um bem-vindo sinal de vitalidade da economia.