Principais suspeitos de assassinar médicos são encontrados mortos
Corpos estavam em dois carros na Zona Oeste; um é de Philip Motta Pereira, o Lesk, ex-miliciano e aliado da maior facção criminosa do estado
Quatro traficantes suspeitos pelo assassinato de três médicos num quiosque na Barra nesta quinta (5), foram encontrados mortos nos arredores da Gardênia Azul, também na Zona Oeste. Entre eles está Philip Motta Pereira, o Lesk, suspeito de ter sido um dos responsáveis por iniciar uma guerra envolvendo traficantes e milicianos. O conflito, segundo investigações da polícia, é pelo controle da exploração de negócios irregulares em nove comunidades da região. Foragido da Justiça, ele teve a prisão preventiva decretada por crime de associação para o tráfico em setembro de 2019. Seu corpo estava no porta-malas de um Toyota Yaris, deixado na Gardênia Azul. Também foi identificado Ryan Soares de Almeida, considerado o braço direito de Lesk. Ele e os outros dois mortos estavam num HRV, abandonado na Rua Abraão Jabor, no Camorim.
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Preso em dezembro de 2020 por tráfico de drogas, posse irregular de arma de fogo e corrupção de menores, Ryan deixou a Cadeia Pública Jorge Santana em setembro de 2021. Ele seria integrante da “Equipe Sombra”, grupo criminoso liderado por Lesk, que é apontado em processos distintos que tramitam no Tribunal de Justiça do Rio tanto como integrante de um grupo paramilitar quanto de uma facção do tráfico. Segundo a polícia, eles foram mortos pela própria facção, após terem matado os médicos por engano, pois o ortopedista Perseu Ribeiro Almeida foi confundido com o miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barbosa. O terceiro corpo encontrado foi identificado no início da tarde como sendo de Tiago Gomes da Silva. O quarto suspeito morto ainda ainda aguarda identificação pela Delegacia de Homicídios da Capital.
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O ataque aos médicos ocorreu por volta de 1h da madrugada desta quinta (5). Quatro ortopedistas foram alvos de uma tentativa de execução no quiosque da Naná 2, em frente ao Hotel Windsor, na Barra, onde todos estavam hospedados. Três foram mortos e um ficou ferido. Os médicos iriam participar de um congresso de ortopedia que começou nesta quinta (5) no próprio Windsor. Eles estavam numa mesa do quiosque quando três criminosos armados e vestidos de preto saíram de um carro branco e fizeram mais de vinte disparos na direção do grupo. Uma câmera de segurança flagrou o momento do ataque. Marcos de Andrade Corsato, de 63 anos, e Perseu Ribeiro Almeida, de 33, morreram ainda no local. Diego Ralf Bonfim, de 35, chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos. Ele era irmão da deputada federal Sâmia Bomfim e cunhado do também deputado federal Glauber Braga (ambos do PSOL), o que gerou suspeitas de ter se tratado de um crime político.
Já Daniel Sonnewend Proença, de 32 anos, também foi ferido e levado para o Lourenço Jorge, também na Barra, onde passou por uma cirurgia ortopédica nas pernas. Em um vídeo curto gravado na manhã desta sexta (6) no hospital e divulgado no blog da jornalista Lu Lacerda, ele diz que está bem e agradece pela preocupação das pessoas. “Tô bem, viu? Tá tudo tranquilo, graças a Deus. Só com umas fraturas, mas vai dar certo. Vamos sair dessa juntos. Valeu pela preocupação, obrigado”. A cirutgia de Daniel durou quase 10 horas e envolveu 18 profissionais. Ele levou 14 tiros, que provocaram 24 perfurações em seu corpo. O médico teve lesões no tórax, intestino, pélvis, mão, pernas e pé. Já com quadro de saúde estável, ele foi transferido para um hospital particular.
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Verdadeiro alvo dos criminosos, Taillon de Alcântara Pereira Barbosa é filho de Dalmir Pereira Barbosa, apontado como um dos principais chefes de uma milícia que atua na Zona Oeste. Ele estava preso, mas no último dia 29 recebeu liberdade condicional. Além disso, segundo a polícia, o paramilitar mora próximo ao quiosque onde os médicos foram mortos e costumava frequentar o local. Segundo gravações interceptadas pela Polícia Civil com autorização judicial, momentos antes do ataque, em conversa por telefone, um homem que estava sendo investigado pelos agentes diz a outro que “acho que é posto 2″ e recebe uma resposta que é inaudível. A voz seria de Juan Breno Malta, conhecido como BMW e principal auxiliar do Philip Motta, o Lesk, ambos, segundo a polícia, ligados à milícia e ao tráfico. Lesk teria rompido com milicianos para aderir à facção criminosa Comando Vermelho. A polícia acredita que BMW havia recebido a informação de que Taillon estava no Quiosque da Naná e tentou explicar o local para um comparsa incumbido de matá-lo. O quiosque, no entanto, fica entre os postos 3 e 4 da orla da Barra. Outro indício de que o crime tem relação com a quadrilha de Lesk é que o carro usado no crime, um Fiat Pulse branco, foi rastreado pela polícia e seguiu até a Cidade de Deus, que é uma base do Comando Vermelho.