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Talento arretado

Diretora-geral de Cordel Encantado, Amora Mautner revela seu estilo rude para se impor na TV

Por Alessandra Medina
Atualizado em 5 jun 2017, 14h57 - Publicado em 15 jun 2011, 18h38
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  • Ao embaralhar temas que pareciam nada a ter um com o outro, como a nobreza europeia e o cangaço brasileiro, Cordel Encantado não para de surpreender. Há dois meses no ar, o folhetim arrebatou o público do horário das 6 e já obteve 28 pontos no ibope, número considerado excelente para a faixa. Parte do sucesso deve ser creditada ao texto redondo de Thelma Guedes e Duca Rachid e ao elenco muito bem encaixado no enredo, com destaque para as atuações de Matheus Nachtergaele, Débora Bloch e Luiz Fernando Guimarães. Por justiça, vale salientar também o acerto na maquiagem, no figurino, no cenário e nas imagens com o efeito de película do cinema. Entre tantos motivos, brilha com força a estrela da diretora-geral Amora Mautner, uma carioca com fama de ser arretada no trabalho. Ela é responsável pela medida certa nas interpretações burlescas da atração. “Fico muito atenta aos atores e ao tom da novela”, reconhece. “Há um grande risco de virar uma comédia tosca, né?”

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    Sua carreira na TV foi construída meio ao acaso e, por pouco, não é interrompida logo na primeira experiência. Amora começou como atriz aos 16 anos, interpretando um papel na novela Vamp, exibida em 1991 e atualmente em reprise no canal pago Viva. Sua performance diante das câmeras foi inesquecível. “Odiei do primeiro ao último dia de gravação”, lembra. “Queria que a personagem usasse as minhas roupas e sugeria marcação para o diretor. Já sabia que aquele não era o meu caminho.” Fora dos estúdios, os problemas continuavam. No auge da adolescência e com as mudanças no corpo a todo vapor, ela detestava se ver na tela. Tímida, não sabia lidar com o assédio dos fãs. Numa derradeira tentativa, ainda foi escalada pelo diretor Roberto Talma para o especial Deus É Brasileiro. “Chegamos à conclusão de que era melhor ela tentar outra profissão”, recorda Talma, que lhe deu a primeira oportunidade atrás das câmeras, como sua assistente em um seriado. Seis anos mais tarde, em 1998, a moça passou para o núcleo de novelas e virou braço-direito da diretora Denise Saraceni na regravação da trama Anjo Mau. De lá para cá, dirigiu doze folhetins e seis minisséries. Aos 36 anos, é a bem-sucedida caçula entre os diretores-gerais da emissora, com salário em torno de 30 000 reais.

    TV Globo/João Miguel Júnior
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    Filha única do cantor, compositor e escritor Jorge Mautner e da historiadora Ruth Mendes, Amora teve uma educação para lá de liberal. Quando completou 7 anos, os pais acharam que estava na hora de colocá-la na análise. “Não conheço método melhor de autoconhecimento para a pessoa aprender a encarar a vida”, explica Jorge Mautner. Frequentadora do meio artístico desde pequena – é afilhada da atriz Betty Faria -, a menina sempre teve dificuldades de se adaptar às convenções. Ela e a amiga de infância Preta Gil foram protagonistas de um episódio que entrou para o folclore do Colégio Andrews. Em uma aula de literatura, o professor começou a desancar o homossexualismo até que Preta Gil pediu a palavra. “Falei que o meu pai e o da Amora eram gays”, rememora. “E, depois de dizer que nós duas éramos namoradas, demos um selinho.” Embora fosse tudo encenação, no fim do semestre a direção sugeriu que elas procurassem outra escola, digamos, mais de vanguarda. “A ficha só caiu depois. Na verdade nós fomos expulsas!”, conta Preta.

    TV Globo/Zé Paulo Cardeal
    TV Globo/Zé Paulo Cardeal ()

    A vocação para comandar, que mais tarde ela descobriu e virou sua fonte de sustento, foi constatada por seu primeiro marido, o escritor Geraldo Carneiro, com quem ela morou dos 17 aos 21 anos. “Amora nasceu para orquestrar grandes produções, e eu era só um, não podia dar certo”, diz, com bom humor. “Ela precisa de uns 400 figurantes para viver bem.” O segundo casamento foi com o ator Marcos Palmeira. Os dois se conheceram em Celebridade, novela dirigida por ela e estrelada por ele. Ficaram juntos quase cinco anos e tiveram Julia, hoje com 3 anos e meio.

    O talento para liderar destacado por Geraldo Carneiro aflorou com força na minissérie JK, exibida em 2006, quando ela dirigiu as cenas do enterro do ex-presidente, com centenas de extras. O pulso firme logo deu lugar à fama de durona, e a própria diretora admite ter se excedido nas broncas, mas credita tudo à insegurança da juventude. “Imagina, aos 23 anos eu já era diretora”, enfatiza. “Aquele personagem brigão foi o jeito que encontrei para me impor diante dos homens e de profissionais com 50 anos de Globo.” Agora, jura, está mais para o estilo paz e amor. Há controvérsias. No estúdio, a equipe da novela aprendeu a identificar o humor da chefe. Quando chega e solta a frase “hoje vai ser um ótimo dia” é bom sinal. Se, ao contrário, dá as caras com ar de poucos amigos, a precaução é redobrada. “Não sou fácil”, admite. “Mas fiquei mais educada.” Amora amadureceu e, garante, deixou de ser casca grossa.

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