Designer de formação e fotógrafa por vocação, a carioca Tatiana Altberg, 40 anos, passava por um momento de indefinição profissional em 2003, quando uma amiga que desenvolvia um projeto social de teatro no Complexo da Maré a convidou para conhecer o trabalho. Estimulada pelo que viu, ela resolveu criar uma iniciativa semelhante, mas voltada para sua vocação, a fotografia. O resultado foi o projeto Mão na Lata, que se dedica a mostrar a realidade de uma das favelas mais violentas do Rio, tentando, ao mesmo tempo, derrubar estereótipos e valorizar seus moradores. Desde 2003, Tatiana promove oficinas de fotografia com crianças e jovens da região. Inicialmente, as aulas foram realizadas em parceria com a ONG Redes de Desenvolvimento da Maré, em escolas públicas da área. Com poucos recursos, a professora precisou pensar em uma forma diferente de viabilizar as aulas. “Só tínhamos o papel fotográfico e mais nenhum equipamento. Foi aí que me lembrei das câmeras pinhole, com as quais havia tido algum contato durante a faculdade”, explica. A técnica em questão consiste em transformar latas em câmeras artesanais, sem lente, com as quais é possível tirar fotos em preto e branco.
“Nosso trabalho ajuda esses jovens a perceberem a potência criativa que eles têm”
Após a primeira experiência, ainda em conjunto com a ONG, Tatiana decidiu continuar com o projeto por conta própria. Com o objetivo de fomentar o olhar crítico e poético dos alunos, a iniciativa, mais de uma década depois, ainda é tocada pela fotógrafa com muito suor. “Só conseguimos nosso primeiro patrocínio nove anos depois da criação do projeto. Estou sempre correndo atrás de apoio para poder continuar”, desabafa. As oficinas costumam reunir até vinte alunos, de 6 a 23 anos, e a cada ano apresentam uma proposta diferente. “Somos um coletivo de aprendizado, buscamos sempre fazer coisas novas, estar em movimento.” O trabalho destes últimos anos rendeu belos frutos, como duas publicações, exposições variadas e a compra de parte da produção dos alunos para integrar o acervo permanente do Museu de Arte do Rio, na Zona Portuária. Apesar das dificuldades, ver o resultado da ação é motivo de orgulho para Tatiana. “Nosso trabalho ajuda esses jovens a perceberem a potência criativa que eles têm. É muito bom fazer parte dessa transformação”, afirma.
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