Por que as terapias alternativas estão ganhando espaço no mundo pet?
Tratamentos como acupuntura e florais ingressam com tudo na rotina de caninos e felinos, também afetados pelas turbulências pandêmicas
Nos últimos tempos, a busca por um estilo de vida mais saudável tem levado muita gente a repensar os hábitos, começando pelo básico — uma melhor alimentação e atividades físicas regulares. Essa trilha do bem-estar, não raro, desemboca nas chamadas terapias alternativas, complementares aos tratamentos convencionais. A lista de opções aí é farta e, para quem planeja aderir, a boa notícia é que há cada vez mais estudos comprovando seus benefícios.
O fenômeno não se limita apenas a nós, humanos, mas vem se espalhando também pelo vasto mundo animal. “Quando a minha primeira buldogue fez 2 anos, apareceram problemas na coluna e a acupuntura garantiu a ela uma ótima qualidade de vida”, conta a professora Fátima Merola, moradora de Laranjeiras. Dona de três cães e dois gatos, ela passou a fazer uso frequente da técnica em seus bichinhos e ainda somou à cesta alternativa os florais quânticos. “Amora toma para crises alérgicas, já o Mano Brown e o Benny usam para dissolver os cálculos renais”, detalha. “Às vezes, até me confundo com todos aqueles vidrinhos, mas sei que mal também não faz.”
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A acupuntura é uma das mais procuradas terapias alternativas oferecidas no campo veterinário. Oriunda da medicina tradicional chinesa, existe há cerca de 5 000 anos e aportou durante o século XIX no Brasil, mais precisamente no Rio, com a chegada dos primeiros imigrantes de países asiáticos. Ganhou um bom espaço na década de 80, até ser reconhecida como uma especialidade pelo Conselho Federal de Medicina, em 1995. O tratamento, que consiste na aplicação de agulhas bem fininhas em pontos específicos do corpo, pode ser empregado para atacar diversas enfermidades — inclusive no caso dos pets.
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“Neles, tratamos distúrbios musculares, respiratórios, digestivos, neurológicos, hormonais e mesmo emocionais”, enumera a veterinária Eliane Nishijima. Adepta da técnica desde 1997, ela é uma das precursoras no Rio na adoção da acupuntura para pequenos animais e observa um interesse crescente, sobretudo nestes últimos meses. “A pandemia trouxe uma preocupação adicional com a saúde e o bem-estar dos pets, talvez por estarem mais tempo convivendo e observando suas necessidades”, afirma a especialista.
Ao rol de tratamentos dedicados a caninos, felinos e outros pets, em cartaz nos consultórios veterinários do Rio, somam-se ainda a cromoterapia (à base de vibrações emitidas por raios de luz), a fitoterapia (a partir do uso de plantas medicinais) e até a ozonioterapia (na forma de compressa ou spray). Essa última foi indicada para o boxer Zeca, na tentativa de curar uma ferida na pata traseira de origem pós-cirúrgica. “Depois da operação, ele tomou vários remédios, mas não precisou mais ao iniciar a ozonioterapia, que, além ter acelerado bastante a cicatrização, agiu com efeito antibactericida”, diz a dona de Zeca, a empresária Valéria Magalhães.
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Figurinha conhecida na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, o cão ainda apresentou outras complicações de saúde sérias, como um tumor no coração e uma doença que comprometeu parte de seu pulmão. De novo, as terapias alternativas entraram em cena. “Os benefícios são biofísicos, não bioquímicos, então não trazem efeitos colaterais, o que é uma grande vantagem”, explica a veterinária Eliane Nishijima. Atualmente, o cachorrinho está muito bem, obrigado, integra a turma da acupuntura — faz toda semana, de forma preventiva — e, para enlaçar o pacote, toma seus florais diariamente. “Não sai barato, mas vejo que com quase 12 anos ele tem conseguido manter a energia de um animal jovem e saudável”, acrescenta Eliane.
Segundo dados do Instituto Pet Brasil, o Rio contabiliza cerca de 12 milhões de animais de estimação, atrás apenas de São Paulo e Minas Gerais. Trata-se de um mercado que, no país, movimenta 40 bilhões de reais por ano e é altamente novidadeiro. “Um dos grandes destaques neste último ano foi a categoria de suplementos, que cresceu 88%. O tempo todo recebemos novos produtos, como vitaminas e nutrientes para melhorar ou fortalecer o sistema imune dos animais”, aponta Viviane Ravagnani, gerente comercial da Petz, dona de três megastores na cidade.
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Outra grande rede, a Cobasi, com 112 lojas em onze estados, também observou a ascensão de itens relacionados ao bem-estar animal. “A venda de florais registra um aumento de 35% por ano desde 2019”, calcula a gerente de marketing Daniela Bochi. Com diferentes essências, cada uma para uma situação — tem para agressividade, hiperatividade e até latidos excessivos —, os vidrinhos maiores custam em média 48 reais e não possuem contraindicação. Ainda assim, vale para a bicharada a mesma regra aplicada ao Homo sapiens: o uso deve ser feito com acompanhamento profissional.
Por recomendação de uma veterinária, a professora de artes visuais Gisela Viana introduziu sessões de reiki e cromoterapia na rotina de Vênus, uma shih tzu de 11 anos com problemas renais. “No início, ela ficava de um lado para o outro, mas hoje, só de ouvir a voz da profissional, relaxa e dorme a sessão inteira”, afirma Gisela. Com a pandemia ainda em alta, os atendimentos presenciais acabaram interrompidos, mas continuaram on-line, semanalmente, tanto para a cachorrinha quanto para sua dona, que também é adepta. “Sabe aquele papo de que o cão é igual ao dono? Muitas vezes isso acontece: o animal acaba se espelhando no tutor e por isso a terapia pode ter um efeito maior quando aplicada nos dois”, defende a veterinária Daniela Moury Kasai.
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O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) já reconhece algumas dessas práticas como especializações profissionais, como a homeopatia e a acupuntura. Em 2020, o órgão regulamentou também o uso da ozonioterapia e do tratamento com células-tronco, dando respaldo e segurança a clientes e médicos. E dá-lhe agulhadas e latidos.