Aos 35 anos, Sebastião Santos costuma ser convidado para visitar outros países a trabalho e tem uma biografia recém-lançada. Destino inimaginável para o menino nascido e criado em Duque de Caxias, frequentador do lixão de Jardim Gramacho desde a infância, quando começou a ajudar a família a recolher material reciclável. Com 19 anos, Tião, como é conhecido, passou a atuar na cooperativa criada por sua mãe e outros colegas de ofício. A dedicação aos estudos no tempo livre e sua posição de liderança na associação renderam, em 2000, um convite para participar de um seminário sobre meio ambiente na Uerj. “Até então, meu ponto de vista sobre o que fazia era o da sobrevivência. Ali, ao lado de intelectuais que discutiam o nosso trabalho, percebi a importância dele para a sociedade”, lembra Tião, atualmente um palestrante requisitado (e boa parte das vezes voluntário) para assuntos ligados a descarte de lixo e reciclagem.
“Onde muitas pessoas veem apenas um refugo, tem gente por trás trabalhando e reaproveitando”
Muito dessa projeção se deve ao encontro com Vik Muniz, no fim de 2007, quando o artista plástico estava às voltas com a gravação do seu documentário Lixo Extraordinário. Tendo Tião como uma espécie de protagonista, o filme sensibilizou plateias com um olhar renovado sobre a atividade dos catadores e conquistou uma indicação ao Oscar. Hoje, além das palestras em empresas, Tião presta consultoria ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para estimular a reciclagem em lixões do exterior. Também lidera o Limpa Brasil — Let’s Do It, projeto surgido na Estônia, que promove ações ligadas ao reaproveitamento de lixo em escolas e ainda mutirões de limpeza. Desde que o movimento chegou ao Brasil, em 2010, já foram coletadas mais de 1 300 toneladas de material reciclável em 22 cidades do país. “Nosso objetivo é mudar a cabeça das pessoas através da questão ambiental. Nem tudo o que é jogado fora é lixo. Onde muitas pessoas veem apenas um refugo, tem gente por trás trabalhando e reaproveitando”, explica.