Banhado por 246 quilômetros de praias, detentor da maior floresta urbana do planeta e emoldurado por montanhas, o Rio de Janeiro reúne a paisagem perfeita e as condições ideais para se tornar um efervescente polo de experiências em meio à natureza. O turismo de aventura vem ganhando fôlego ao redor do mundo, e os números revelam a extensão do fenômeno. Um estudo da plataforma Statista mostra que esse mercado movimentou globalmente cerca de 172 bilhões de dólares no ano passado — e deve dobrar até 2028.
Dados do Ministério do Turismo apontam que 20% dos estrangeiros que procuraram o Brasil como destino nos últimos anos estavam interessados em embarcar em passeios radicais e aproveitar todo o esplendor do cenário a céu aberto. “A cidade precisa urgentemente transformar atratividade em produtividade”, enfatiza Mauricio Werner, especialista em turismo da FGV. “Não adianta ter uma vista linda sem uma estrutura adequada. A Vista Chinesa é um exemplo disso. A pessoa chega, tira foto, e vai embora. Isso não dá retorno aos cofres públicos.”
Uma novidade, segundo os analistas, tem chances de atrair os forasteiros para o turismo de aventura não apenas na capital, mas estado afora: a tirolesa do Pão de Açúcar. “Quando a gente pensa num hotel icônico, logo vem à mente o Copacabana Palace. A tirolesa poderia incentivar a criação de um passaporte de aventuras, incluindo montanhismo, cavalgada, rafting e até rapel em balão, que pouca gente sabe que o Rio oferece”, avalia Fabio Nascimento, presidente da Associação Carioca de Turismo de Aventura (Acta). Há um enrosco judicial ainda em curso, com a obra embargada sob a alegação de que causou dano ao patrimônio público.
Marcada para 29 de novembro, uma audiência deve cravar uma decisão — pendenga sobre a qual os responsáveis pela ideia mantêm otimismo, ancorados na positiva resposta dos cariocas. De acordo com levantamento do Datafolha, 88% da população acredita que a atração irá colaborar para o aumento de visitas à cidade. “Foi pensando no turismo sustentável que estruturamos esse projeto. Nosso objetivo é proporcionar uma interação plena dos turistas com a natureza”, defende Sandro Fernandes, CEO do grupo Iter, que administra o Parque Bondinho Pão de Açúcar.
Conhecida como a terra do bungee jump, a Nova Zelândia possui uma gama de opções para a turma afeita àquele frio na barriga — da queda livre ao mountain bike, percorrendo um circuito mais leve, com passeios por fontes termais, gêiseres e imensos lagos. Para se tornar referência em aventuras, o país da Oceania se fia no pilar do crescimento sustentável, mesmo que os preços inflem, e o número de visitantes cresça em ritmo mais vagaroso.
Meca do turismo, a Flórida, nos Estados Unidos, vem extrapolando a rota que gira em torno da Disney e das montanhas-russas para explorar outra vertente do radicalismo — a começar pelo Parque Nacional Everglades, reserva pantanosa com direito a dar de cara com jacarés. Exemplo, aliás, lembrado pela prefeitura do Rio para ressaltar que experiências em zonas de farta natureza trazem retorno financeiro. “Lá, uma empresa cobra 30 dólares por um passeio, mas investe uma porcentagem na preservação do meio ambiente, o qual tem o maior interesse em preservar”, diz o subprefeito da Zona Sul, Flávio Valle.
Caminhando nessa trilha, o Parque da Catacumba, na Lagoa, foi concedido à iniciativa privada, assim como outros sete espaços de pura natureza. A vencedora da licitação foi a Lagoa Aventuras, que já atuava como permissionária há quinze anos, disponibilizando por lá tirolesa, muro de escalada e rapel. Com um investimento previsto de 2 milhões de reais, será instalada agora uma tirolesa mais moderna, com 350 metros, e haverá reforma dos equipamentos do parque, que ganhará um restaurante.
“Hoje, um turista estrangeiro passa, em média, quatro dias no Rio. Se ele estender a viagem por mais um, já veremos um acréscimo de 25% nos gastos”, calcula o presidente da Acta, que defende mais apoio e fiscalização do poder público aos operadores de atrações radicais. “O Rio tem imensas oportunidades para sair das páginas policiais e estampar boas notícias na área do entretenimento. Basta esforço e incentivo”, conclui Mauricio Werner, da FGV. Prontos para altas doses de adrenalina?