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A guerra dos trios

Às vésperas do Carnaval, três empresas disputam o mercado de carros de som que desfilam pela cidade puxando os foliões

Por Bruna Talarico
Atualizado em 5 dez 2016, 13h52 - Publicado em 5 fev 2014, 16h24
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negocios-1400--.jpg (Fernando Maia / Riotur (Rick Sound), Selmy Yassuda (Beto Melo)/)
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O Carnaval carioca é terreno fértil para muitas disputas. Entram no páreo as escolas de samba em desfile pela Sapucaí, as criativas fantasias que ganham as ruas e até mesmo a beleza dos corpos que sassaricam pela cidade. Uma batalha desconhecida do público, no entanto, acontece ao mesmo passo em que a festa evolui até a quarta-feira de cinzas. Responsáveis por propagar pelas ruas as marchinhas e os enredos da estação, as empresas de trios elétricos encontram nesta época do ano a sua principal fonte de sustento. E, apesar de a clientela só aumentar com a propagação dos blocos por aqui, o filão se tornou alvo de uma competição acirrada para ver quem põe mais carros nas ruas. Três grupos lideram a concorrência, sendo dois do Rio e um paulistano. No primeiro time estão os locais Rick Sound e Beto Melo, que dividem esse mercado com a MB Produções. “O Rio, hoje, é um grande celeiro de eventos de entretenimento. A demanda chega a ser compatível com a de São Paulo. Por isso resolvemos trazer nossos serviços para a cidade”, diz Claudia Mantovani, da companhia “forasteira”.

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Das três empresas que lideram o ranking, a mais antiga é a Rick Sound. Nascida em São Cristóvão há 27 anos, surgiu quando o empresário Ricardo Mello comprou sua primeira Kombi. Adaptada para ganhar uma caixa de som, ela logo foi alugada pelos puxadores da Mangueira. Passadas quase três décadas, a frota aumentou e hoje tem doze carros, que fazem desde ensaios técnicos da Sapucaí até eventos religiosos, manifestações de rua, campanhas políticas e mobilizações sindicais. Apesar do crescimento, o caráter improvisado é o que ainda rege esses negócios. “Compramos os caminhões e adaptamos os chassis manualmente aqui no galpão. O processo todo, com a personalização da estrutura metálica e de equipamentos de som, leva três meses e custa 200?000 reais, em média, por veículo”, explica Ricardo. É o mesmo procedimento adotado por seu principal rival, Humberto Melo, dono da Beto Melo Promoções e Eventos, de Padre Miguel. Beto herdou do pai seu primeiro automóvel, depois que o patriarca decidiu fazer, na garagem de casa, um carro de som para divulgar a própria campanha a deputado federal. Perdeu as eleições, mas acabou transformando o transporte na fonte de sustento da família. “Parecia loucura porque, quando começamos, o Carnaval de rua nem existia direito. Ele foi crescendo com a gente, e a gente com ele”, avalia Humberto, que cobra em torno de 4?000 reais pela saída de cinco horas.

Apesar da longa estrada dos concorrentes cariocas, o apuro técnico e estético, no entanto, ainda não é o forte das empresas daqui. Tanto que alguns blocos alugam veículos com mais potência sonora e conforto interno em outras cidades. Um dos mais requisitados é o luxuoso O Demolidor, da paulistana MB Produções, cuja diária não sai por menos de 20?000 reais, incluídos aí os custos do deslocamento e de uma equipe formada por oito pessoas. Ele é uma espécie de limusine dos trios, está avaliado em 2,5 milhões de reais e já esteve por aqui para atender ao Monobloco e ao Bloco da Preta. Todo feito de alumínio, possui dois camarins, quatro banheiros, TVs de LCD, copa, cozinha, ar-condicionado, internet, e foi construído sob medida para levar Ivete Sangalo pelas ruas de Salvador. Foi lá, inclusive, que tudo começou. No início da década de 50, a dupla Dodô e Osmar acoplou al­­to-falantes, uma caixa de som e um gerador a um Ford 1929 e saiu pela cidade cantando suas músicas durante o Carnaval. Deu certo. Uma multidão foi atrás e desde então os trios elétricos só se popularizaram, ajudando a fazer do Carnaval de rua uma grande festa.

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