UFRJ recebe um moderníssimo espectrômetro
Capaz de fazer análises em nível molecular, aparelho é a nova arma da universidade na pesquisa de doenças como a Zika
O ambiente é modesto em comparação à ambição das pesquisas produzidas ali. Em uma sala com fios expostos e sem computadores gigantescos, um enorme cilindro de 4 metros de altura e 5 toneladas é a mais nova estrela do Centro Nacional de Ressonância Magnética Nuclear da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Trata-se de um espectrômetro, equipamento que usa partículas radioativas para fazer uma análise minuciosa da estrutura de moléculas. O modelo de 900 mega-hertz é o primeiro a ser instalado na América Latina e as pesquisas que já estão em curso têm como desafio criar respostas para o tratamento de zika, dengue, febre amarela, chikungunya, câncer e doença de Alzheimer. “Com esse equipamento, ganhamos um olhar mais poderoso, a capacidade de ver formas tridimensionais das moléculas”, explica a bioquímica Ana Paula Valente, da UFRJ.
Um grupo de quarenta especialistas — de diversas instituições do país, como a USP e a Unicamp, e do exterior — já se vale da poderosa engenhoca, mas o número chega a ser dez vezes maior quando se levam em conta todas as equipes participantes dos projetos. Entre eles está o prêmio Nobel de Química de 2002, o suíço Kurt Wüthrich, que desenvolve pesquisas na UFRJ. “É preciso compreender que os resultados das pesquisas neste equipamento são fruto do trabalho de vinte anos de dedicação”, avalia o bioquímico Adalberto Vieyra, diretor do laboratório. O espectrômetro já estuda, por exemplo, a forma como as proteínas do vírus da zika atingem o organismo humano. A nova máquina custou 12 milhões de reais, bancados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), pela UFRJ e pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Biologia Estrutural e Bioimagem (Inbeb). A totalidade dos recursos para a quitação do débito com a empresa alemã Bruker, porém, ainda não está garantida. Mesmo com um desconto de 40% no preço final, faltam 3,6 milhões de reais, a ser quitados em três anos. “As verbas para as pesquisas foram reduzidas drasticamente, especialmente as provenientes do Estado do Rio. Só é possível fazer ciência com investimento. Estamos no limite”, avisa o bioquímico Fábio de Almeida, professor da instituição.