Usina de Campeões transforma vidas em Manguinhos
Desde 2016, o maior projeto de artes marciais do Brasil já levou inclusão social e qualidade de vida para as famílias de mais de mil crianças e adolescentes
Há quatro anos, Isabelle (nome fictício), de 14 anos, foi convencida a participar do maior programa de formação de atletas do Brasil, a Usina dos Campeões. Ela vivia em situação de vulnerabilidade social, mas aceitou participar de um programa de tratamento para dependência química e, na sequência, começou a treinar. Hoje ela tem 18 anos, faz curso técnico e é uma atleta de kickboxing promissora.
Histórias como estas se repetem todos os dias em Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro, que abrange 12 comunidades cariocas e tem cerca de 36 mil habitantes. “Temos histórias de meninos que passaram pelo sistema penal e hoje são monitores da usina e jovens aprendizes na Refit”, celebra Pedro Rizzo, lutador brasileiro de MMA, onde ficou conhecido pelo apelido The Rock (“A Rocha”), e coordenador da Usina de Campeões. “Sem a Refit, esse projeto não existiria”, explica ele, fazendo referência à primeira refinaria privada do Rio de Janeiro, que apoia o projeto desde suas origens, em 2016.
Resultados expressivos
A iniciativa social tem transformado a vida de crianças e jovens através do esporte. O projeto oferece aulas de inglês on-line, apoio na alfabetização, lanche no local, assessoria social e jurídica para a família e cestas básicas, que são entregues mensalmente a todos os participantes. E coloca jovens para praticar muay thai, capoeira, jiu jitsu, boxe, luta olímpica e taekwondo, com impacto para a qualidade de vida dos jovens e de suas famílias.
O impacto da Usina dos Campeões pode ser medido em números expressivos. A empregabilidade pós-usina alcança nove professores, três profissionais de administração, seis monitores, 18 jovens aprendizes, seis profissionais promovidos e duas pessoas em universidades federais.
A participação em campeonatos alcança 22 alunos atuais no Bolsa Atleta, além de 23 alunos que se tornaram profissionais. Em funções específicas na Refit, 10 são jovens atletas como segurança patrimonial e seis auxiliares de serviços gerais e profissionais de limpeza, entre atuais e do passado. Assim a Usina atua em diversas frentes, entre empregabilidade, participação em campeonatos e o desenvolvimento de carreiras profissionais dos participantes.
Disciplina e autoestima
Pedro Rizzo lembra que as artes marciais são uma grande ferramenta de inclusão social. “A arte marcial é um esporte individual. Depende muito da sua disciplina e do comprometimento com você. O jovem transforma sua cabeça desde novo e se compromete e cuidar da alimentação, a evitar influências negativas.”
Atualmente, são 350 jovens matriculados no programa, com idades de 7 a 20 anos. Participar das atividades escolares e ter boas notas é pré-requisito para levar adiante as atividades esportivas. “São 300 famílias impactadas atualmente. Desde 2016, mais de mil jovens passaram pelo programa”, celebra Rizzo, que recentemente ganhou o Prêmio Melhores do Ano nas Artes Marciais 2023, na categoria Legado do MMA. E já foi treinador de astros como José Aldo e Rodrigo Minotauro.
“Nosso objetivo é formar cidadãos”, diz o coordenador da iniciativa, que foi fundada com apoio do empresário Ricardo Magro, mantenedor da entidade. Utilizamos os conceitos das artes marciais, do esporte, de cidadania: solidariedade, ética, respeito ao próximo, hierarquia. Ao aplicarmos todos os conceitos necessários para formar atletas, formamos cidadãos”.
Apoio integral
Na Usina de Campeões, as aulas são gratuitas e acontecem todos os dias sempre contraturno escolar no período da manhã da tarde. Todas as crianças recebem cestas básicas e acesso ao transporte para chegar até Manguinhos. E os alunos contam com a possibilidade de serem absorvidos pela equipe profissional da Usina de Campeões e da escola Rizzo/Ruas Vale Tudo.
A iniciativa trabalha fatores que causam impacto positivo no futuro dos jovens “Temos muitos alunos que viraram monitores e professores. Eles ajudam as famílias. São comprometidos, melhoram a autoestima, ajudam a valorizar a alimentação e a atividade”, diz Rizzo, que também teve a vida transformada pela atividade física. “O esporte transformou a minha vida, me fez olhar para o lado, entender as necessidades de quem treina comigo.”
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