O número crescente de calhambeques de modelo Ford Bigode em circulação pelas ruas fez com que o presidente Washington Luís (1869-1957) desse a ordem para que fosse aberta uma estrada que ligasse as duas principais cidades do país. Inaugurada em 1928, a Rodovia Rio-São Paulo desafiou os mais competentes engenheiros da época, que enfrentaram uma série de obstáculos ao longo da obra — um dos principais foi encontrado durante a criação de um sinuoso caminho para transpor a Serra das Araras. A solução adotada no início do século passado, porém, acabou se tornando um problema quase noventa anos depois. Todos os dias, exatamente nessa parte localizada entre os municípios de Piraí e Paracambi, os agentes de trânsito precisam fechar as pistas para a passagem de caminhões gigantescos em direção ao Rio. “Circulam pela rodovia carretas de vários eixos que trazem peças gigantescas. Elas não têm ângulo para fazer as curvas apertadas da descida da serra. Por isso, precisamos liberar a pista em direção a São Paulo”, explica Carla Fornasaro, gestora de relações institucionais da CCR Nova Dutra. Resultado: um congestionamento de 3 quilômetros com uma hora e 42 minutos de duração média.
O problema continua. Com o traçado praticamente intocado desde sua abertura, o trecho de 8 quilômetros da Serra das Araras utiliza radares para controlar a velocidade dos veículos e limitar o trânsito a 40 quilômetros por hora. Mesmo assim, a região acumula uma média de 500 acidentes por ano, um recorde se comparado com o restante dos 402 quilômetros da Via Dutra. A maioria das ocorrências acontece na pista da descida em direção ao Rio. Um plano para resolver esse imbróglio está em curso. Administradora da rodovia há vinte anos, a concessionária CCR Nova Dutra fez um projeto para a área, mas ainda precisa passá-lo pelos trâmites legais antes de montar o canteiro de obras. A proposta dos engenheiros é transformar a pista de subida em direção a São Paulo em descida para o Rio. Desse mesmo lado do morro seria construído um novo caminho com três pistas, mais uma de acostamento, sustentadas por pilares que alcançam até 60 metros de altura. Orçada em 1,7 bilhão de reais, a obra foi planejada para agredir o mínimo possível a cobertura verde de Mata Atlântica e, por esse motivo, deve contar com dezessete viadutos e um túnel.
Os custos deverão correr por conta da concessionária, mas a construção só vai começar caso o contrato programado para vencer em 2021 seja estendido. De acordo com a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), existem 32 pontos ao longo da Via Dutra que precisam de intervenção, sendo que a Serra das Araras deve receber o investimento prioritário. “Assim que tudo estiver aprovado, teremos a capacidade de iniciar as obras da nova pista em setenta dias e tudo ficará pronto em 44 meses”, explica a representante da CCR, responsável por outras importantes vias como a Rodovia Anhanguera, em São Paulo, o aeroporto de Belo Horizonte (MG), além do VLT e das Barcas, no Rio. Por aqui a empresa ainda administrou a Ponte Rio-Niterói de 1995 a 2015, quando perdeu a concessão para a EcoRodovias, que ofereceu um valor de pedágio mais baixo. Atualmente, as seis praças da Dutra cobram entre 3,40 e 13,80 reais, e a previsão é de que o valor máximo suba para pelo menos 18,60 reais. A decisão sobre a possível extensão do contrato entre o governo federal, responsável pela Via Dutra, e a concessionária está nas mãos dos ministros do Tribunal de Contas da União. Caso a prorrogação seja recusada, o governo deverá fazer uma nova licitação. Enquanto eles não batem o martelo, cabe aos motoristas redobrarem a atenção.