Os números não mentem — até porque não falam sozinhos. Tome-se o exemplo do último relatório publicado pelo Instituto de Segurança Pública (ISP). Nas tabelas da autarquia ligada ao governo do Estado, vários dados indicam a diminuição dos índices de violência em Niterói. A comparação entre janeiro e maio de 2015 e o mesmo período do ano passado revela que caíram os roubos de veículos e os homicídios (9% e 21%, respectivamente). São boas-novas, sem dúvida, mas insuficientes para reverter um sentimento que domina a cidade: do prefeito aos varredores, os niteroienses sentem-se acuados pela criminalidade. A conquista estampada no relatório do ISP empalidece diante do fato de que se ergue sobre recordes negativos. Em 2013 os homicídios aumentaram 48%, o roubo a veículos, 64%, e a situação não melhorou em 2014. Ou seja: depois de piorarem muito, as coisas melhoraram pouco. Outra agravante é que em alguns tipos de crimes a escalada segue firme, justamente naqueles que têm maior impacto no ânimo da população em geral, como roubo de celular, de estabelecimento comercial e roubo seguido de morte (veja o quadro abaixo).
Episódios de violência que assustaram o município reforçam a sensação de insegurança da população. Somente em junho, mês ainda fora das estatísticas oficiais, pedestres se viram em meio ao fogo cruzado na movimentada Avenida Feliciano Sodré, no dia 11, e nas imediações do Museu de Arte Contemporânea, símbolo da cidade, quatro dias depois. No dia 12, Márcio Antônio Mazzeto, taxista, foi esfaqueado em seu carro no bairro do Fonseca e Manuela Azevedo jogou-se no chão de sua loja em Pendotiba para se proteger de um confronto entre policiais e bandidos em frente ao shopping onde trabalha. “Moro aqui há vinte anos e nunca foi assim. Escuto tiros todos os dias”, diz. Nesse triste calendário, o dia 14 registrou o assassinato do marinheiro Carlos Jorge Honorato Calmon, durante uma tentativa de assalto no Centro, diante da mulher e da filha de 7 anos.
Amedrontada, a população defende-se como pode. Após seguidas tentativas de assalto, um condomínio de luxo no bairro de São Francisco avançou além da segurança armada já existente e adotou um moderno sistema de alarme e câmeras avaliado em aproximadamente 200 000 reais. “O que o poder público faz é insuficiente”, resume o analista de sistemas Maurício Tavares, síndico do conjunto residencial.
As causas do problema são conhecidas e remontam a pelo menos quatro décadas de descaso. Desde que deixou de ser capital do Estado do Rio, em 1975, Niterói assistiu a uma contínua perda de protagonismo socioeconômico e de investimentos estruturais. Algumas medidas vêm sendo tomadas para reverter o quadro. Em pouco mais de um ano, o contingente da Polícia Militar — que tem um único batalhão, o 12º, voltado para Niterói e a vizinha Maricá — passou de 700 para 1 052 homens. Em janeiro de 2014, a cidade ganhou uma delegacia de homicídios. A opinião corrente de que bandidos afugentados pelas UPPs no Rio decidiram atravessar a ponte é afastada pelo coronel Gilson Chagas Silva e Filho. “Já detectamos a presença de marginais de outras cidades, mas a maioria é proveniente de São Gonçalo”, garante o comandante do 12º BPM.
Diante da crise, a prefeitura local se mobiliza para apoiar o Estado. Na atual gestão, a tropa da Guarda Municipal subiu seu efetivo de 350 para 600 agentes. Mais de 30 milhões de reais foram investidos em segurança. O município patrocinou a construção ou reforma de seis companhias destacadas da PM e, no próximo dia 15, vai inaugurar o Centro Integrado de Segurança Pública, ligado a 200 câmeras destinadas ao monitoramento das ruas. A previsão é chegar a 600 em 2016. Também estão em curso as medidas necessárias ao armamento da Guarda Municipal, decisão polêmica, mas já aprovada por lei federal. “Não precisa de estudo para saber que os bandidos migraram para Niterói. A situação é séria”, afirma o prefeito Rodrigo Neves, em discurso que conflita com o do comandante do 12º BPM, mas se afina perfeitamente com o estado de nervos de boa parte da população.