Na segunda-feira 23, Paulo Henrique Oliveira de Morais, 13 anos, saía de casa para jogar videogame com o vizinho quando foi atingido por uma bala perdida e morreu. Mais uma vez, o batido palco da tragédia foi o Complexo do Alemão. A rotina de insegurança voltou com força ao conjunto de favelas e, mais recentemente, evoluiu para dias seguidos de guerra. Tudo isso após o vislumbre de um projeto de pacificação iniciado com operação cinematográfica — diante das câmeras, uma tropa de 2 700 homens, entre policiais e militares do Exército, apoiada por blindados, expulsou hordas de bandidos em 2010. Com a chegada das UPPs, em 2012, e benfeitorias variadas, o Alemão viveu momentos promissores de paz, soterrados por corrupção, crise financeira e promessas não cumpridas (o teleférico, inaugurado em 2012 e alçado à condição de ponto turístico, está fechado há mais de sete meses, como apontou uma matéria recente publicada nesta VEJA RIO). O menino Paulo está entre as vítimas de uma obra. Três dias antes de sua morte, a Polícia Militar decidiu posicionar uma torre blindada no Largo do Samba, o ponto mais alto da favela Nova Brasília, dentro do complexo. O bunker de 4 toneladas e 6 metros de altura, deslocado da Linha Amarela, foi um compreensível pedido da tropa local e soma-se a outras barricadas espalhadas pela região: duas cabines blindadas e uma estrutura de cimento reforçado. Preocupados com a ocupação do ponto estratégico, criminosos reagiram, e intensificaram-se os confrontos. No primeiro dia de instalação da torre, a crônica da desgraça anunciada já havia feito duas vítimas fatais. O ajudante de padeiro Gustavo Silva, 17 anos, foi baleado a caminho do trabalho e o soldado do Exército Bruno de Souza, de folga, sentado no sofá de casa, levou um tiro de fuzil. O tiroteio diário também feriu um soldado do Bope. Na quarta-feira 26, durante o enterro do garoto Paulo, sua avó, movida por justa indignação, listava as mortes e perguntava quem seria o próximo. A resposta veio no mesmo dia: Felipe Farias, 16 anos, com um tiro na cabeça. No Alemão, a dor não tem fim.