O bravo Carnaval cidadão de 2018, aquele que levou para a Sapucaí monstruosas mazelas do Brasil (retratadas no enredo da campeã Beija-Flor) e o vampirão-presidente, símbolo de críticas à reforma trabalhista (assunto da vice-campeã Paraíso do Tuiuti), foi além da Quarta-Feira de Cinzas e terminou de forma melancólica na noite desse 28 de fevereiro. A festa esfuziante dos dois dias de desfile principal, a emoção televisionada na apuração dos votos dos jurados, tudo isso foi ofuscado por decisões tomadas em um escritório refrigerado no Centro. De novo, como em 2017. No ano passado, acidentes com carros alegóricos, que provocaram mais de trinta feridos e uma morte (a da radialista Elizabeth Ferreira Joffe, 55 anos), resultaram, por lógica incompreensível, em afago, em vez da esperada punição: Tuiuti e Unidos da Tijuca, agremiações responsáveis pelos tristes incidentes, salvaram-se quando uma reunião de representantes das escolas decidiu pelo não rebaixamento, “em solidariedade aos trágicos episódios”. O tapetão, mobilizado mais uma vez neste Carnaval 2018, salvou do descenso a Grande Rio, que perdeu pontos porque um carro quebrou, e, por decisão dos jurados, cairia para o grupo de acesso junto com o Império Serrano. Qual o quê. Um recurso aqui, uma reunião ali, de novo na sede da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), com direito até a ofício do prefeito Marcelo Crivella, em súbito e inesperado interesse pelas coisas do samba, e decidiu-se que ninguém cai. Ironicamente, não vale o que estava escrito. De novo. No ano que vem, explica o presidente da Liga, Jorge Castanheira, volta o sistema do rebaixamento de duas escolas e da subida da campeã do Grupo A. Ou não. Na votação de ontem à noite, apenas os representantes de Mangueira e Portela foram contra a virada de mesa.