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O malandro da Lapa

Com astúcia e uma boa dose de sorte, o empresário Plínio Fróes amplia seus domínios no Centro

Por Felipe Carneiro
Atualizado em 5 jun 2017, 14h58 - Publicado em 7 jun 2011, 12h50
Fernando Frazão/ Produção AD e Bijoux Box
Fernando Frazão/ Produção AD e Bijoux Box (Redação Veja rio/)
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Dez anos atrás, a Lapa penava com um ciclo de decadência cuja imagem-síntese eram os sobrados caindo aos pedaços. À noite, os poucos botecos locais ficavam à míngua, em contraste com a intensa movimentação de travestis nas calçadas. Quem te viu, quem te vê. Ao longo deste século, a área recuperou o vigor e a aptidão de dar abrigo aos boêmios, tanto os daqui quanto os que vêm de fora. Inaugurados sucessivamente, bares e casas de shows logo ficam apinhados de gente. Devido ao grande contingente que invade suas ruas, a região tem as principais vias interditadas ao trânsito nas jornadas mais concorridas, de sexta e sábado.

Por trás dessa reviravolta está um mineiro de clichê, com jeito pacato e fala pausada. Empresário menos por vocação que por oportunidade, Plínio Fróes foi o desbravador da nova Lapa ao abrir, em 2001, o Rio Scenarium, um híbrido de casa noturna e antiquário que virou o principal marco da revitalização da área. Em vias de comemorar uma década de sucesso, ele se prepara para ampliar seus domínios no centro da cidade. Além do Rio Scenarium, da cachaçaria Mangue Seco, do bar de música instrumental Santo Scenarium e de um antiquário, o império de Fróes vai ganhar outros três pontos (veja o mapa na pág. ao lado). Eles serão inteiramente restaurados a fim de acolher um instituto, na Rua do Lavradio, uma casa de shows e um espaço para exposições. Os dois últimos ficam nos arredores da Praça Tiradentes, um quadrilátero há algum tempo na mira do empreendedor, por motivos comerciais a afetivos. “Ali moraram Chiquinha Gonzaga e Villa-Lobos”, conta, citando dois gigantes da história da música brasileira. “Precisamos ressuscitar essa vocação da praça.”

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Com a sorte que costuma acalentar os bons malandros, o empresário aproveitou cada revés em sua vida para se reinventar, sempre de forma positiva. Nascido na pequenina Ferros, município do Vale do Aço com pouco mais de 10 000 habitantes, Fróes lembra com carinho da infância na fazenda do avô. Jovenzinho, ele se mudou para Vitória, onde começou em sequência os cursos de administração, arquitetura e publicidade, sem, no entanto, completar nenhum deles. Na capital capixaba, iniciou a trajetória profissional, ao criar uma campanha de educação no trânsito. Os comentários elogiosos lhe deram segurança para arriscar um passo mais ousado: a transferência para o Rio, em 1989. Aqui, arrumou emprego numa agência de publicidade, mas por um breve período.

Com o Plano Collor, a firma foi a pique. Sem perspectiva de trabalho em seu setor, Fróes aceitou o convite do amigo Nelson Tozé e juntos fundaram um acanhado antiquário na Rua do Lavradio. Aos poucos, ele se familiarizou com as peças da loja e se apegou de tal maneira aos objetos que, em vez de vendê-los, passou a alugá-los, principalmente para filmes e novelas de época. De novo, a casualidade foi decisiva. Para animar o lançamento ali realizado de um livro do escritor Ariano Suassuna, a dupla de sócios organizou um pequeno show. Foi então que surgiu a ideia de uma casa nos moldes do Rio Scenarium, com ambiente bem cuidado e música brasileira ao vivo. “Por falta de opção, o carioca ouvia muito rock, pagode e funk à noite”, diz ele, com extremado fervor nacionalista.

Fróes tem um jeito todo peculiar de gerir os negócios. É um caso raro de empresário que, segundo afirma, jamais pegou dinheiro emprestado e garante conhecer pelo nome todos os seus 280 funcionários. Toda a receita amealhada, guardada em segredo, é reinvestida, e pouco sobra para seu consumo pessoal. Só recentemente ele foi morar numa casa própria, na Lapa, é claro, a mesma onde residia de aluguel havia dezoito anos. “Nunca fizemos reunião formal, com hora marcada”, revela Tozé. As principais decisões amadurecem em descontraídos bate-papos, e não raro a dupla de sócios leva em consideração a opinião de quem passa na hora. Mas é bom não duvidar da eficiência dos encontros, como demonstram os empreendimentos a caminho. Com inauguração prevista para novembro, o Instituto Rio Scenarium terá aulas de música para crianças, além de uma biblioteca, um espaço para eventos e duas exposições permanentes, uma de azulejos e outra com fotos e vídeos do acervo de Albino Pinheiro, fundador da Banda de Ipanema, morto em 1999. Para o início do próximo ano, está nos planos do empresário a abertura dos dois casarões oitocentistas adquiridos recentemente na Praça Tiradentes. Um deles abrigará uma mostra com objetos de arte e mobiliário da família Guinle. O outro terá programação musical. Ele ainda tem a intenção de converter um sobrado vizinho do Rio Scenarium em um endereço para operetas. “Falta ao Rio uma casa pequena para música clássica. Só temos o Theatro Municipal”, acredita. “Plínio Fróes é o maior responsável por esse presente para a cidade que é a Rua do Lavradio reurbanizada”, reconhece o ex-subprefeito do Centro Augusto Ivan. Com a astúcia de um malandro e o suor de um operário, Plínio Fróes ajuda a revigorar uma área onde o Rio é mais carioca.

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