Eram 20 horas de uma quinta-feira recente quando a van branca estacionou na calçada da Rua Joseph Bloch, em Copacabana. Ali dentro, uma dúzia de adoráveis senhorinhas, a mais nova com 60 anos, passou as últimas três horas tagarelando sobre assuntos dos mais variados ? as discussões iam da condenação dos mensaleiros até a solteirice do ator Cauã Reymond. Quando desembarcaram, porém, o tema das conversas mudou. Caminhando vagarosamente em direção ao Shopping dos Antiquários, elas extravasavam a expectativa pela atração da noite: o musical Cazuza. “Dizem que é excelente! Tomara que seja como o do Tim Maia, que amei e vi três vezes”, disparou, empolgada, Margarida Cabral, de 80 anos, dona de uma atribulada agenda social. Frequentadora assídua de excursões para a terceira idade, ela já havia visto um monólogo naquela semana. Na sexta garantiu seu lugar no show dos Golden Boys e para o sábado estava programando um espetáculo de dança. “Sou a Bárbara Heliodora da van. Como vou a praticamente tudo, as pessoas estão sempre me pedindo opinião”, orgulha-se a moradora do Méier.
Assim como dona Margarida, um enorme público com mais de 60 anos vem recorrendo aos passeios organizados exclusivamente para essa faixa etária. Em alguns estabelecimentos, inclusive, essa turma já chega a responder por uma vasta fatia da bilheteria. “Às segundas, terças e quartas, corresponde a 70% dos pagantes”, revela Frederico Reder, do Theatro Net Rio. De olho nesse nicho, o produtor tem investido no segmento, criando uma programação sob medida com nomes da antiga, a exemplo de Agnaldo Rayol, Cauby Peixoto e Ângela Maria.
Essa predominância da terceira idade nas plateias não é exatamente uma novidade, mas vem se acentuando graças a alguns fatores. De acordo com o último censo do IBGE, o Rio pulou para o segundo lugar no ranking das cidades com o maior número de idosos, perdendo apenas para Porto Alegre. Além disso, os vovôs e vovós cariocas têm hoje um poder aquisitivo bem acima da média do país, podendo desviar parte de seu orçamento para o entretenimento. Por fim, a busca por companhia seria mais uma razão para as senhorinhas preferirem as saídas animadas à pacata rotina dentro de casa. Por aqui, 125?000 idosos moram sozinhos, sendo que 77,2% deles são do sexo feminino. “Foi a forma que encontrei para me distrair. Só a viagem na van já vale o passeio”, garante a aposentada Dulcimar Barros, de 84 anos, brandindo sua bengalinha enquanto fala.
Com o transporte e o ingresso já inclusos no preço das excursões, que custam em média 125 reais, a segurança e a comodidade se tornam grandes atrativos para essa turma que não abre mão de diversão. O motorista pega todo mundo em casa, enquanto um guia acompanha as senhorinhas. Ele distribui os ingressos, acomoda-as nas poltronas e, no fim do espetáculo, confere se estão todas de volta. “Elas dependem desse tipo de serviço porque muitas são viúvas ou não têm quem as leve ao teatro”, diz Orlando Kremer, de uma empresa especializada no atendimento a esse público. Em 2013, a procura por seus serviços cresceu quase 50%. “Passei a organizar minha agenda em função dessas excursões. Marco todas as minhas consultas no cardiologista e na fisioterapia de acordo com os horários das sessões”, conta Inalcir Vieira, de 74 anos. Seja a atração da noite um musical estrelado, uma comédia ou mesmo um cineminha, elas não querem mais ficar em casa tricotando.