O site ficou no ar por apenas quinze minutos. Foi tempo suficiente para que os 3 000 ingressos disponibilizados chegassem ao fim. Não era de estranhar que os convites se esgotassem rápido. Dias antes, nas redes sociais e aplicativos de bate-papo, já havia começado a circular um diz que diz em torno do horário da venda, marcada para 21 de janeiro. No miolo do burburinho estava uma das festas mais badaladas do Rio, o Baile do Zeh Pretim, agora na versão carnavalesca, em dose dupla, agendada para o sábado e o domingo da folia. Com um detalhe que, desde a primeira edição, deixa um certo ar de mistério no ar: ninguém sabe o local exato em que as festas ocorrerão. Realizadas nas versões anteriores em lugares como o Museu Histórico Nacional, o Morro da Urca e o Clube Marimbás, elas só terão o endereço revelado no mesmo dia. Por trás desse grande sucesso da noite carioca está o próprio Zeh Pretim. Ou melhor, Paulo de Castro, 34 anos, carioca, nascido e criado no Leblon. Designer de formação e DJ por opção, ele criou o evento em 2011, de forma despretensiosa, para comemorar seu aniversário. “Fiquei com medo de ficar vazio e chamei alguns amigos. Esperávamos 400 pessoas e apareceram mais de 1 000. À meia-noite tivemos de fechar as portas”, recorda. Desde então, a festa já viajou para mais oito cidades brasileiras e aterrissou até em Punta del Este, no Uruguai.
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O agito mais aguardado do Carnaval é só um exemplo dos eventos que têm Zeh Pretim por trás neste verão. No embalo da noite carioca, em que o público prefere frequentar festas a boates, ele alugou um casarão em Santa Teresa para produzir o projeto El Rancho de Verano, que também teve a lotação esgotada em todas as edições de janeiro só no boca a boca. Ali, DJs de diversos estilos musicais ocupam todos os cômodos da casa simultaneamente, enquanto o público pode dançar, cair na piscina ou passear pelos jardins. Quem o vê no comando das carrapetas logo indaga o porquê do apelido. A história é curiosa: ele havia concluído a faculdade de desenho industrial e estava em seu primeiro emprego. Para paquerar uma colega, através de um bate-papo virtual, sem que ninguém desconfiasse, recorreu à criatividade. “Não me chamo José, nem sou negro, era insuspeitável”, conta Paulo, que começou a trabalhar com música logo depois, já na sua própria produtora, para fazer a trilha sonora de filmes de surfe. Foi aí que se deu conta de que queria fazer isso também nas pistas de dança. Sua grande sacada foi ir contra a corrente da música eletrônica, que despontava na época. Lançando mão de um repertório eclético, que ia do rock e do hip-hop a clássicos dos anos 80 e 90, passando por uma pitada de música brasileira, ele foi ganhando fama como DJ. E pondo todo mundo para dançar.
Típico menino do Rio, surfista, cheio de contatos e de gírias ao falar, não demorou muito para que o DJ começasse a enxergar oportunidades fora das pistas de dança. Dos grandes eventos, que incluem outras festas badaladas, como a Rocka Rocka, partiu para negócios fixos. Seu primeiro empreendimento foi o Complex Esquina 111, em Ipanema, combinação de espaço cultural e bar que em um ano de funcionamento já coleciona vários prêmios. Há um mês, ele voltou a atacar com mais novidades. Assumiu, junto com outros sócios, o Paxeco Bar, no Horto, agora renomeado como Sobe, e abriu ainda uma barraca de praia em Ipanema cheia de regalias para os clientes, como aluguel de toalhas e drinques sofisticados. “A experiência é completamente diferente. Para produzir uma festa, ficamos dois meses trabalhando para planejar um dia. Em um local fixo, é preciso estar sempre presente, mas é possível corrigir com mais rapidez qualquer problema”, avalia. Com talento para negócios multidisciplinares, Zeh Pretim já virou mito no meio. O DJ Zedoroque, estrela do mundo alternativo carioca e mentor do rapaz nos toca-discos, o considera uma espécie de Midas: “O cara tem faro. Tudo o que ele toca vira ouro!”.
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