Nascida no pequeno município de Vitória de Santo Antão, no interior de Pernambuco, Zilda Barreto veio para o Rio ainda menina, repetindo o movimento de tantas famílias que saem do Nordeste em busca de uma vida melhor. Logo que chegou, instalou-se com os pais no Complexo do Alemão, onde, futuramente, viria a se tornar uma espécie de líder comunitária, com três mandatos à frente da associação de moradores. Hoje, ela comanda uma cooperativa de catadores de lixo e ainda dá lições de educação ambiental aos residentes do local. A iniciativa surgiu em um momento de enorme sufoco de sua vida. Após enfrentar uma gravidez de risco e dar à luz o terceiro filho, Zilda encontrou dificuldade para conseguir emprego. Para piorar, o marido estava gravemente debilitado por uma doença. Sem dinheiro até para comprar comida, ela viu a salvação em uma ideia do caçula, na época com 5 anos. “Chovia muito, a casa estava ficando toda inundada, e comecei a chorar. Então, meu filho lembrou-se de algo que tinha visto na TV e disse que iríamos reciclar e a nossa vida melhoraria”, lembra. Apesar da vergonha de catar lixo na frente dos vizinhos, Zilda seguiu o conselho do pequeno e acabou fazendo da profissão de catadora o seu ganha-pão.
“É muito gratificante ver que uma ideia pode mudar não só a minha vida, mas a de toda a comunidade”
O que começou como uma iniciativa isolada cresceu e virou o meio de vida de outras 25 famílias da comunidade, por meio da Cooperativa de Catadores do Complexo do Alemão (Coopcal). O número só não é maior por falta de capacidade do espaço que o grupo utiliza, desde 2000, para preparar o material que será vendido para reciclagem. São recolhidas cerca de 60 000 toneladas por mês, e o dinheiro arrecadado é dividido entre todos os catadores. Ao longo dos anos, Zilda se profissionalizou por meio de uma série de cursos e hoje é também educadora ambiental. Ela realiza ações para orientar a população sobre a forma correta de descartar o lixo — trabalho que ela garante ter mudado a rotina no Alemão. “É muito gratificante ver que uma ideia que surgiu no desespero pode mudar não só a minha vida, mas a de toda a comunidade. Vejo com orgulho que outras pessoas também resolveram fazer esse trabalho, apesar do preconceito que ainda existe com a atividade de catador.”
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