Separar a Zona Sul do resto do Brasil. A ideia pode parecer esdrúxula, mas é a principal bandeira de Zona Sul é o meu País, página criada no Facebook no último domingo (14). Com postagens em defesa da chamada República da Guanabara, o perfil contava com mais de 600 seguidores no fim da tarde desta quarta (17). O difícil é saber se a novidade é para valer ou se é mais uma brincadeira de internet.
Por meio do Facebook, Veja Rio solicitou uma entrevista com os criadores de Zona Sul é o meu País na última quarta (17). Em uma mensagem de resposta, eles afirmaram que não pretendem emitir quaisquer declarações acerca da página neste momento. “Demais detalhes serão revelados quando for oportuno”, se limitaram a informar. Após a publicação dessa matéria, eles enviaram uma nova mensagem, esclarecendo alguns pontos. Esses esclarecimentos foram incorporados à versão atual do texto. Ao que tudo indica, o suposto movimento deve provavelmente se tratar de uma campanha de marketing ou outra iniciativa destinada a chamar a atenção dos internautas. Não à toa, quase ninguém que comenta no perfil tem levado a ideia a sério. Ações desse tipo têm se tornado cada vez mais comuns na rede. Um exemplo foi o anúncio de Luan Santana de que trocaria o sertanejo pelo heavy metal em setembro. Após 2 dias de suspense, o próprio cantor revelou que a “novidade” se tratava, na verdade, de uma propaganda de uma marca de chocolate. Sendo assim, é melhor manter o pé atrás em relação aos zona sulenses, como eles mesmos se denominam.
Os separatistas enumeram diversos motivos para a independência. Um deles é o fato de que cinco dos 18 bairros que formarão o futuro país têm hoje os metros quadrados mais valorizados do Brasil. São eles: Gávea, Ipanema, Jardim Botânico, Lagoa e Leblon. Combinado à renda acima da média tupiniquim de seus moradores, esse fator geraria uma distorção, contra a qual o novo movimento luta: a Zona Sul pagaria mais impostos para o resto do Brasil do que receberia dele em troca na forma de serviço. Resolvida essa injustiça, a expectativa é que surja por aí um país top. “Começaremos como uma nação de primeiro mundo, e com autonomia para impedir que marginais (estrangeiros responsáveis pelo problema mais urgente nos bairros da Zona Sul) e barrenses (que, historicamente, se apropriaram de elementos da cultura zona sulense em benefício de sua própria reputação) adentrem o nosso território para disturbar a paz e a tranquilidade”, afirmam os responsáveis pela página em uma de suas postagens. “Cansado de ver o seu dinheiro indo para Madureira, com um prefeito barrense como Eduardo Paes? Então, junte-se a nós”, conclamam eles ao fim do manifesto.
Para quem acredita que a Zona Sul não tem nada próximo de uma identidade nacional, os separatistas têm uma resposta na ponta da língua. Defendem que há uma cultura local composta por diversos ícones – muito deles, inclusive, roubados para criar a ideia de Brasilidade. O biscoito Globo (criado em São Paulo em 1953 e fabricado hoje na rua do Senado, no Centro) e a Bossa Nova (da qual o baiano João Gilberto e o tijucano Tom Jobim são alguns dos principais expoentes) são exemplos. Os separatistas se defendem: “Existem diversas práticas identificadas como (parte) da cultura brasileira que, na verdade, são desenvolvidas originalmente por africanos ou mesmo portugueses e foram ‘absorvidas’ pelo povo brasileiro. O mesmo acontece a Zona Sul com a cultura do mate e biscoito Globo nas praias e a Bossa Nova apreciada pela população há décadas”. Além de argumentos, o novo país já nasce com promessas. Uma delas é a reforma completa da Rocinha, com o dinheiro que hoje estaria sendo gasto no BRT Transoeste e outras obras definidas como fúteis. Outra inovação seria a legalização dos jogos de azar, vital para uma economia que pretende ser a “Mônaco dos trópicos“. “Espaços como o Cassino Atlântico, em Copacabana, poderiam assim voltar à sua atividade natural”, defendem os separatistas em um de seus textos.
Independente da veracidade ou não das intenções, chama a atenção a retórica afiada que sustenta a argumentação. É claro que há um escorregão ou outro, como o nome República de Guanabara (com exceção de Botafogo, Flamengo e Urca, a baía não banha diretamente mais nenhum bairro da Zona Sul). Mas, até o momento, não é possível cravar uma resposta definitiva em relação a autenticidade do movimento. De toda forma, a existência de dúvidas assim é um retrato do mundo em que vivemos, onde ideias pouco plausíveis já não podem mais ser simplesmente tomadas como brincadeira.
(Esse texto foi atualizado com novas informações em 18/01/2018, às 18h45)