A morte de Walewska: como identificar sinais de um possível suicídio?
Morte da campeã de vôlei joga luz sobre uma questão muito mais comum do que se supõe
O Brasil se surpreendeu esta semana com a notícia da morte da jogadora de vôlei Walewska. Medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg e bronze nas Olimpíadas de Sydney, em 2000, além de campeã brasileira por diversas vezes, Walewska era uma referência no esporte e estava lançando um livro contando sua trajetória vitoriosa.
No último dia 21, quinta-feira, Waleswka caiu do 17° andar do edifício onde morava em São Paulo. Ela despencou e caiu sobre a sacada de um apartamento, localizado no primeiro andar. O socorro médico chegou a ser chamado, tentaram reanimá-la, mas ela já estava morta. A polícia trabalha com a hipótese de suicídio.
Imagens do circuito interno de câmeras mostram Walewska no andar onde morava, carregando uma pasta e uma garrafa de vinho na mão. Uma auxiliar de limpeza do condomínio encontrou a ex-jogadora de vôlei sentada em uma mesa no terraço do prédio, conversou com ela e disse que a atleta não apresentava sinal de tristeza.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, uma em cada 100 mortes no mundo acontece por suicídio. Segundo estudo da Unicamp, 17% dos brasileiros, em algum momento, já pensaram em dar um fim à própria vida e, desses, 4,8% chegaram a elaborar um plano.
Mas o que faz com que uma pessoa bem sucedida como Walewska comenta ato tão violento e definitivo?
São muitas as razões podem levar alguém a cometer suicídio. Uma causa emocional, familiar, financeira ou amorosa. Quem recorre ao suicídio, busca na morte um alívio definitivo para uma dor que parece intransponível em vida, uma forma de colocar um ponto final em algo que o oprime de maneira insuportável. É possível que essas causas estejam combinadas com algum transtorno mental, como transtorno de personalidade, depressão, esquizofrenia ou uso abusivo de substâncias, como álcool e drogas.
Outra possibilidade é entender o suicídio como uma punição, para si mesmo ou com o outro. Nestes casos, os sinais podem ser depreendidos de bilhetes ou cartas de despedidas. Sabe-se que Walewska deixou uma carta, embora seu conteúdo não seja de conhecimento público.
O que impressiona no caso de Walewska é que até mesmo as pessoas mais próximas afirmam não ter identificado na atleta qualquer sinal que ela pudesse tomar uma atitude tão extremada contra a prória vida. Entre os principais sinais de que alguém pode estar com ideação suicida estão: não gostar mais de coisas que antes gostava; achar que os outros ficarão melhor depois da sua morte; queda no rendimento profissional ou escolar e sentimentos como isolamento ou desesperança.
Se alguém declara a vontade de tirar a própria vida, essa pessoa não deve ser desacreditada, como se “quisesse chamar atenção”, como muitas vezes elas são julgadas.
Ainda não há dados suficientes para conhecer os reais impactos das campanhas de mídia para prevenção do suicídio, mas sobre um ponto não resta dúvida: é preciso acabar com o estigma que ronda os transtornos mentais. Abordá-los de forma responsável e consciente aumenta a chance de quem precisa contar com correta ajuda profissional, apta a intervir a favor do paciente enquanto é tempo.
Se a situação da saúde mental, no Brasil e no mundo, já era crítica até poucos anos atrás, ela se tornou ainda mais grave depois do episódio traumático da pandemia. O isolamento social, a solidão, o medo de morrer, foram traumas que estão apresentando suas consequências. Ainda não temos a total dimensão do seu impacto em nossas vidas – tanto de adultos como crianças.
Diversas instituições e entidades, como o Centro de Valorização da Vida (CVV), fazem um trabalho fundamental de apoio emocional e prevenção ao suicídio, atendendo de forma voluntária todas as pessoas que querem conversar por telefone, email, chat e voip.
Que a morte de Waleswka sirva como mais um alerta – um triste alerta – para se prevenir o suicídio no Brasil.
Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.