Avanços polêmicos em psiquiatria: o que é real ou não?
Evento irá discutir temas que estão em voga e são de interesse público
“O tempo não para e, no entanto, ele nunca envelhece”, diz a letra do genial Caetano Veloso. É fato: se olharmos para as práticas médicas realizadas há 100 ou 200 anos, ficaremos surpresos com os progressos frente à Medicina do século XXI, quando se fala de telemedicina e robótica.
Deter o tempo e suas implicações seria uma tarefa perdida. Porém, se ele traz avanços, também pode trazer dúvidas e falsos progressos embalados na cortina de fumaça do excesso de novidades com que somos confrontados diariamente no mundo veloz em que estamos inseridos. A questão fica ainda mais sensível quando nos atemos ao terreno da Medicina, por seu poder de influenciar diretamente na qualidade de vida da população – basta ver toda a discussão sobre a vacinação contra a Covid-19.
É sobre todas estas questões que iremos nos debruçar no dia 31 de agosto, quinta-feira, às 20h, no evento online “Avanços polêmicos em psiquiatria”. Na ocasião, terei o prazer de coordenar o encontro que contará com a presença do psiquiatra José Alexandre Crippa, Professor Titular do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da USP; do psiquiatra Marcelo Allevato, Mestre pelo IPUB UFRJ, membro Titular Sênior da ABP e Diretor Secretário da APERJ; e do psiquiatra Marcos Gebara, Professor da Pós-Graduação em Psiquiatria da PUC-Rio, especialista em Bioética e Presidente da APERJ.
No encontro, abordaremos temas percebidos como avanços em psiquiatria, mas que são cercados de polêmicas e dúvidas não apenas quanto ao grau de evidência científica, mas também quanto às possíveis aplicações no dia a dia.
Um dos temas que será abordado é o Sistema Endocanabinoide, que o público leigo provavelmente desconhece o que seja. Ele tem uma uma relação direta com o canabidiol – este sim bastante explorado na mídia. O sistema endocanabinoide é formado por enzimas, receptores e neurotransmissores que existem naturalmente no corpo e que regulam várias funções. Ele tem uma função vital para manter o bem-estar do corpo, garantindo a regulação do sono, do humor e do apetite, por exemplo, além de estar associado às respostas imunológicas e inflamações.
O interesse pelo Sistema Endocanabinoide levou ao desenvolvimento de terapias e medicações baseadas em canabinoides, com canabidiol (CBD) e THC sendo usados para várias condições médicas. Mas, afinal, o que prescrever? Canabidiol e THC realmente funcionam? Para que? O CBD é uma alternativa mais natural que outras medicações? O uso medicinal de THC pode causar dependência?
Outro tema a ser explorado no encontro será a Testagem Farmacogenética (ou farmacogenômica), uma espécie de “customização” da Medicina a partir da pesquisa de genes específicos, já que cada indivíduo tem seu grupamento de genes que os tornam únicos. Os medicamentos, portanto, seriam administrados a partir da informação genética do paciente. Seus benefícios potenciais podem incluir a redução do risco de efeitos colaterais, aumento da eficácia da medicação e, em consequência, melhora dos resultados no tratamento.
O terceiro tema a ser discutido será o uso da neuroimagem em psiquiatria. Um tumor pode ser diagnosticado por ressonância magnética, a hepatite, por exame de sangue e a pneumonia pode ser apontada por um raio X. Mas como diagnosticar uma doença mental por exame? Se as amostras de sangue são inúteis, por outro lado, há crescente evidência de que exames de imagem podem ajudar no diagnóstico de transtornos psiquiátricos. Mas quais exames? E para quais doenças?
Se você ficou curioso ou também compartilha das dúvidas listadas neste artigo, junte-se a nós no evento online “Avanços polêmicos em psiquiatria”. Mais informações sobre as inscrições estão disponíveis nas páginas da Espaço Clif nas redes sociais.
Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.