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Analice Gigliotti

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Comportamento
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Bebida alcoólica: as novas gerações estão mudando o padrão de consumo?

Pesquisas indicam uma mudança de comportamento dos mais jovens

Por Analice Gigliotti
Atualizado em 20 ago 2023, 17h30 - Publicado em 18 ago 2023, 09h56
Jovens se divertem sem consumo de álcool.
Diminuição do consumo de bebidas alcoólicas aponta uma mudança de comportamento dos jovens. (Shutterstock/Reprodução)
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O consumo de bebida alcoolica na juventude, geralmente, está atrelado a um ato de rebeldia. Por ser uma droga lícita e fácil acesso, ela costuma ser a porta de entrada para o mundo dos adultos. Mas será que as coisas estão mudando? É o que aponta novas pesquisas focadas no consumo de bebidas alcoolicas. Sondagem recente da Covitel a pedido do Ministério da Saúde mostrou que o hábito de beber álcool com regularidade entre jovens vem diminuindo. Apesar de ser realizada por telefone, o que pode acabar dando um viés, a sondagem faz pensar. Antes da pandemia, 10,7% diziam consumir bebidas alcoólicas com frquência. Este número sofreu uma ligeira queda, para 10,5% no primeiro trimestre de 2022 e agora, no primeiro trimestre de 2023, chegou ao patamar de 8,1%. O hábito dos jovens de beber, portanto, estaria em declínio.

Quando o recorte da sondagem é por idade, a maior fatia de consumo fica entre as pessoas com 45 e 54 anos (9,1%), seguido dos adultos entre 55 e 64 anos (8,7%). Os jovens entre 18 e 24 anos aparecem apenas em terceiro lugar, com 8,1%. É a primeira vez que os mais jovens não ocupam o topo do ranking. Outra pesquisa, realizada pelo Ipec, concluiu que 55%, portanto a maioria dos brasileiros, afirma que não consome bebidas alcoólicas.

Gigante mundial do mapeamento de tendências, a WGSN já havia apontado a redução no hábito de consumir álcool entre os jovens desde 2018, quando comparados com as gerações anteriores. Na mídia, nas campanhas publicitárias e nos cardápios de bares e restaurantes, é crescente a oferta de drinques e cervejas sem álcool. A queda no consumo implica em outras benéficas consequências, como a redução do tabagismo (já apontado em pesquisas anteriores), a diminuição dos acidentes de trânsito e a redução do número de dependentes alcoólicos, por exemplo.

Mas o que estaria motivando os jovens a beberem menos? Dentre as principais especulações, estão o desejo das novas gerações por uma vida mais saudável, consumindo apenas produtos orgânicos e de procedência conhecida. Outra teoria é que, no pós-pandemia, há quem não tenha readquirido o hábito da vida noturna fora de casa, muito menos aquelas noitadas de varar madrugada. Uma terceira causa possível é a dificuldade financeira que muitos ainda enfrentam depois dos meses de restrições impostos pela Covid-19. O entendimento de diversão também passou por modificações, com hábitos diurnos cada vez mais frequentes, horário em que nem sempre a bebida alcoólica é “convidada”.

A quarta teoria, também possível, é a troca da dependência de álcool por outra adições. Um exemplo é o crescente consumo de cigarros eletrônicos, também conhecidos como vapes, ainda mais danosos que os cigarros tradicionais. Há ainda a disparada concreta do número de usuários de maconha, em decorrência de uma equivocada percepção de diminuição de risco da droga frente a liberação em vários países. Ou, quem sabe, a adição em tecnologia, com a presença maciça diante de telas, consumindo redes sociais, o que posiciona o Brasil no ranking dos países que ficam mais tempo conectados.

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No entanto, se entre os jovens o hábito da bebida alcoólica parece estar em declínio, entre os mais velhos ele permanece. Pesquisas apontam que o consumo abusivo no Brasil continua alto – beirando os 20% –, o que demonstra uma naturalização da frequência e da quantidade excessiva de bebida alcoólica no cotidiano do brasileiro. De acordo com a Oganização Mundial de Saúde (OMS), não existe uma quantidade segura ou recomendável de consumo de álcool: qualquer quantidade implica em consequências, maiores ou menores, às saúdes mental e física (implicações no pâncreas, fígado, regiões gastrointestinal e cardiovascular).

Fazer a população entender que um hábito tão arraigado à nossa sociedade traz malefícios significativos é um desafio longo e complexo. Quem sabe o caminho para a mudança venha de onde menos tenha se esperado: pelo comportamento dos jovens.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

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