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Comportamento

Citisiniclina: o recurso mais esperado para tratamento do tabagismo

Fármaco pode mais que dobrar as chances de fumantes largarem o cigarro

Por Analice Gigliotti
21 jan 2025, 11h12
Imagem de um cigarro partido ao meio.
Fumantes tem um novo aliado contra a dependência em cigarro: a citisiniclina. (Freepik/Reprodução)
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Desde que o medicamento Champix foi retirado do mercado brasileiro, em 2021, fumantes que desejam abandonar o vício se viram “órfãos” do recurso mais eficiente contra o tabagismo, neste que é sabido como um dos movimentos mais desafiadores para um indivíduo: largar uma dependência, seja ela qual for.

A boa notícia são os resultados cientificamente comprovados da citisiniclina, um fármaco à base de plantas que se liga aos receptores de nicotina no cérebro, de modo a aliviar o desejo pela substância e, consequentemente, da vontade de fumar.

Sintetizada em 1964, a substância começou a ser considerada como um tratamento para a adição em cigarros apenas nos últimos anos. Ela já se mostrou mais eficaz que os famosos adesivos de nicotina e, ao menos, tão bem sucedido quanto a vareniclina (Champix). Como psiquiatra especializada em dependências químicas, já utilizei o medicamento com vários pacientes, posso testemunhar os bons resultados da substância e compartilhar com os leitores a alegria e alívio de ver um novo aliado para quem busca largar a compulsão.

Estudo de 2023, conduzido por pesquisadores argentinos e publicado na revista científica Addiction, em dezembro do mesmo ano, analisou os resultados de doze ensaios clínicos, com quase seis mil voluntários. O trabalho mostrou que, além do baixo custo de produção, a citisiniclina pode mais que dobrar as chances de fumantes largarem o cigarro e representar a primeira nova terapia com esta finalidade, em quase duas décadas.

A diferença entre a citisiniclina e o Champix é que a primeira é usada por menos tempo, 25 dias, e apresenta muito menos efeitos colaterais – o que ajuda a manter os pacientes tomando o medicamento, já que efeitos adversos são responsáveis por boa parte do abandono de tratamentos.

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Episódios de recaídas são o ponto mais sensível no tratamento das dependências químicas e comportamentais. O dependente pode ter a vontade genuína de se abster da nicotina, mas sem um “aliado” que lhe dê suporte para alcançar esse objetivo, as chances de permanecer na abstinência diminuem significativamente. Como a citisiniclina tem uma molécula similar ao do Champix, é possível supor, hipoteticamente, que seu uso por mais tempo venha a prevenir ainda mais as recaídas.

Recente pesquisa do Hospital das Clínicas apontou que 60% dos entrevistados que fumam cigarros eletrônicos responderam que já tentaram parar de fumar por conta própria. Este percentual cresce para 80% entre aqueles com alta dependência. Em nenhum dos casos, os usuários conseguiram abandonar o vício.

O tabagismo, além de ser a razão principal de mortes evitáveis, é um fator importante na causa de aproximadamente 50 outras doenças incapacitantes e fatais. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o fumo é responsável por 71% das mortes por câncer de pulmão, 42% das doenças respiratórias crônicas e aproximadamente 10% das doenças cardiovasculares. Com o apoio de recursos como o novo medicamento, existe a chance de que esse quadro possa ser revertido.

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Porém, convém lembrar que nenhum fármaco, por si só, opera milagres. Largar um vício demanda uma estratégia multidisciplinar. A citisiniclina é significativamente mais eficaz se for combinada com acompanhamento de terapia cognitivo-comportamental.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

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