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Analice Gigliotti

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Comportamento
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Dormindo com o inimigo: os cuidados necessários ao se tomar Zolpidem

Uso incorreto do medicamento tem levado usuários a comportamento incomuns em quadro de sonambulismo ou amnésia

Por Analice Gigliotti
10 nov 2022, 11h10
Frasco e comprimidos de Zolpidem.
Indicado para insônia, Zolpidem pode oferecer riscos se for consumido de forma errada. (Shutterstock/Reprodução)
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Quem fez a denúncia foi a última edição do “Fantástico” (TV Globo): pacientes que estão tomando o medicamento Zolpidem relatam comportamentos bizarros, que vão de compras de viagens ao exterior à aquisição de dezenas de colchas de almofadas, passando por dirigir um carro ou corte de cabelo. Detalhe importante: segundo eles, não há qualquer resquício de lembrança do período em que estão sob efeito do medicamento.

Recentemente, a ex-deputada Joyce Hasselmann veio a público levantando a possibilidade de ter seu apartamento invadido e ter sido agredida enquanto dormia. Porém, mediante a revelação que ela usava Zolpidem para dormir. O que teria acontecido a todos eles?

Antes de mais nada, é importante esclarecer que o Zolpidem é um medicamento seguro quando ministrado por tempo determinado e indicado por um profissional. Trata-se de um remédio pertencente a um grupo de medicamentos conhecidos como análogos das benzodiazepinas (diazepam, alprazolam, midazolam, por exemplo). Normalmente, ele é indicado para o tratamento de insônia.

No Brasil, o Zolpidem é vendido nas formas sublingual de 5  e 10 mg (tendo por isso efeito mais rápido) e de 6,25 mg e 12,5 mg com liberação lenta (ideal para pessoas com problemas para manter o sono). O medicamento age retardando a atividade cerebral, portanto deve ser ingerido imediatamente antes de se recolher para dormir e quando se planeja um sono de, pelo menos, sete horas de duração.

Porém, o consumo do medicamento sem a supervisão de um médico pode causar tolerância do organismo levando à dependência. Há relatos de casos de sonambulismo ou amnésia em decorrência do Zolpidem, independente se ministrados a curto ou longo prazos. É o mais provável que tenha acontecido nos casos relatados ao “Fantástico” e também com a ex-deputada. Um perigo não apenas para quem toma o remédio, mas também para familiares e pessoas que a cercam.

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a venda de Zolpidem cresceu 560% no Brasil entre 2011 e 2018. Apenas em 2020, foram comercializadas 8,73 milhões de caixas desse medicamento nas farmácias brasileiras.

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Se o medicamento tomado isoladamente já requer uma série de cuidados, é ainda mais chocante que pessoas estejam divulgando, na internet e nas redes sociais, a combinação de zolpidem com bebida alcoólica, a fim de terem experiências alucinatórias, como se tivessem tomado uma droga. De maneira nenhuma esta é a destinação correta do medicamento, tornando-se um perigo para a saúde.

Segundo a Associação Brasileira do Sono, cerca de 73 milhões de pessoas no país sofrem de insônia. O Zolpidem é apenas uma das ferramentas na busca por boas noites de sono. Outros medicamentos podem ser prescritos que vão desde antidepressivos à anticonvulsionantes e antipsicóticos.  Além de remédios, terapia e mudanças de hábitos formam um tratamento amplo, complexo e eficiente. Entender isso é fundamental para que um bom aliado não vire um inimigo silencioso na hora de dormir.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

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