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Comportamento
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Estudo conclui que taça de vinho às refeições não traz benefícios à saúde

Avaliação de mais de 100 pesquisas sobre o tema contraria a velha ideia de que “uma tacinha só de vinho faz bem para a saúde”

Por Analice Gigliotti
2 Maio 2023, 10h27
Garrafa de vinho vazia
Ao contrário do que se dizia, o estudo concluiu que o risco de morte prematura não é reduzido em indivíduos que bebem pouco (Shutterstock/Reprodução)
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A análise foi publicada no mês de março, na revista científica Jama Network Open, e frustrou quem gosta de apregoar os benefícios do vinho para a saúde. Uma revisão de pesquisas realizadas nas últimas quatro décadas apontou falhas em muitos estudos científicos que sugeriram que beber com moderação era melhor para a saúde da maioria das pessoas do que não beber nada e poderia até ajudá-las a ter vida mais longeva.

Ao contrário do que se dizia, o estudo concluiu que o risco de morte prematura não é reduzido em indivíduos que bebem pouco, além de aumentar consideravelmente entre mulheres que consomem 25 gramas de álcool ao dia (ou seja, o equivalente a duas latinhas de cerveja ou duas taças de vinho). Já entre os homens, o risco aumenta a partir de 45 gramas de álcool ao dia. Portanto, a desculpa da “tacinha de vinho tinto à noite que faz bem à saúde” pela alta concentração do antioxidante resveratrol, acaba de ser enterrada.

A revisão dos mais de 100 antigos estudos – abrangendo um universo de mais de 5 milhões de adultos – não foi conduzida com o objetivo de sugerir indicações para o consumo de bebidas alcoólicas, mas sim com o intuito de corrigir eventuais problemas metodológicos (além de questões éticas, como o financiamento de algumas pesquisas pela indústria do álcool). Tais estudos haviam apontado que consumidores moderados de álcool têm menor probabilidade de morrer, independente da causa, incluindo as não ligadas ao consumo de álcool.

O que se conclui agora é que os estudos mais antigos não consideraram que quem consome álcool de maneira leve ou moderada têm outros hábitos sadios. Além disso, entrevistados que agora diziam-se abstêmios eram, em muitos casos, ex-consumidores que haviam largado o álcool depois de desenvolverem problemas de saúde. Ou seja, depois da revisão dos estudos, os cientistas notaram que os supostos benefícios para a saúde do consumo de álcool diminuem drasticamente e deixam de ser estatisticamente relevantes.

As comparações entre moderados e abstêmios são falhas por várias razões, mas a principal delas é que os moderados tendem a ser moderados em tudo e, principalmente, em comportamentos que aumentam a expectativa de vida e que não tenham a ver com a mortalidade relacionada ao álcool. Eles tendem a ter renda mais alta, maior propensão a prática de exercícios físicos, alimentação saudável e serem menos obesos. “Eles têm muitos fatores que protegem sua saúde e que não estão relacionados ao álcool”, cravou um dos cientistas.

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Em janeiro deste ano, o Centro Canadense de Uso e Dependência de Substâncias divulgou novas diretrizes avisando que nenhum nível de consumo de álcool é saudável e incentivando as pessoas a cortar o consumo ao máximo. Estudos recentes concluíram que mesmo o consumo moderado de álcool, incluindo o vinho tinto, pode contribuir para diversos tipos de cânceres, como o de mama, do esôfago e do pescoço, além de colaborar para a hipertensão e uma arritmia grave, conhecida como fibrilação atrial.

É claro que esta revisão de estudos que agora chega à público ainda pode conter eventuais falhas metodológicas, mas de todo modo, corrobora uma nova forma de pensarmos sobre o consumo alcoólico.

Mas, afinal, de onde vem a ideia de que beber com moderação pode ser benéfico para a saúde? Em 1924, Raymond Pearl, biólogo da Universidade Johns Hopkins, publicou um gráfico com uma curva em forma de J. O ponto mais baixo no meio representava os bebedores moderados, que tinham as taxas mais baixas de mortalidade de todas as causas. O ponto mais alto do J representava os riscos conhecidos do consumo pesado de álcool, como doença hepática e acidentes de carro. O gancho à esquerda representava os abstêmios.

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Exatamente 100 anos depois, finalmente aponta-se uma série de falhas neste raciocínio.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

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