Pesquisa americana: exemplo dos pais evita abuso de álcool dos filhos
Hábito do consumo excessivo de bebidas alcoólicas pode criar tendência de repetição de comportamento nos filhos
Pesquisa do Programa de Álcool dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) concluiu que pais que bebem regularmente ou em excesso aumentam em quatro vezes as probabilidades de os filhos beberem sozinhos. O estudo foi publicado na revista científica Journal of Adolescent Health.
A pesquisa teve como base as respostas de quase 800 pares de pais e filhos. Destes, 6,6% dos jovens consumiam álcool. Aqueles que os pais bebiam com frequência (ao menos cinco dias ao mês) ou em excesso (quatro doses para mulheres e cinco doses para homens em um único evento) tinham maiores chances de beber do que os adolescentes cujos pais não tinham o mesmo hábito.
Apesar destas referências de doses, sabe-se que não há consumo de álcool isento de riscos. Quanto mais para jovens em formação, cujo Sistema Nervoso Central sequer está plenamente maduro. Sem intervenção, 10% das pessoas que bebem – independente da idade – vão progredir para a dependência, e entre 50% e 60% terão problemas relacionados ao uso durante os próximos 5 anos. Segundo a Organização Mundial de Saúde, três milhões de mortes por ano resultam do uso nocivo de álcool, representando 5,3% do total de óbitos no mundo.
Se a ciência trabalha com diferentes correntes possíveis para a adição em álcool, como a hereditariedade, também não descarta que o ambiente é um fator que pode interferir significativamente – e é aí que o que as crianças vivenciam em casa é determinante.
Dar o exemplo é o melhor recurso que um pai pode se valer para educar os filhos. E isso, na verdade, vale para muitos outros segmentos na vida: hábitos saudáveis, como a leitura de livros ou a prática regular de esportes também podem ser criados a partir de um bom modelo a ser seguido. Na outra ponta, comportamentos nocivos, como o tabagismo e o próprio consumo de álcool.
De acordo com o “II Lenad – Levantanento Nacional de Álcool de Drogas”, realizado em 2012 pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (INPAD), da Universidade Federal de São Paulo, 22% dos entrevistados declararam ter experimentado bebida alcoólica com menos de 15 anos. Em 2006, esse percentual era de apenas 13%. Entre os homens, 16% afirmaram ter experimentado com menos de 15 anos em 2006, em 2012 essa população aumentou para 24%. Já entre as mulheres a proporção das que tiveram contato com álcool com menos de 15 anos passou de 8% em 2006 para 17% em 2012.
O que os adultos precisam entender é que o uso contínuo e abusivo da substância é capaz de causar mais de 200 tipos de doenças e lesões ao organismo, além de ter uma relação direta com uma série de transtornos mentais e comportamentais.
Talvez os pais não gostem disso, mas educar não é apenas proibir. É também dar o exemplo.
Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.