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O tijucano e o metrô

A (divertida) perspectiva de quem pega o metrô diariamente na Tijuca em direção ao Centro… além de ser uma homenagem aos amigos tijucanos leitores do blog! por Pedro Paulo Bastos Bate sete, oito, nove da manhã, e lá vai uma penca de tijucanos e agregados descendo as escadas da estação da Praça Saens Peña. O […]

Por Pedro Paulo Bastos
Atualizado em 25 fev 2017, 19h15 - Publicado em 14 jan 2013, 01h41
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A (divertida) perspectiva de quem pega o metrô diariamente na Tijuca em direção ao Centro… além de ser uma homenagem aos amigos tijucanos leitores do blog!

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por Pedro Paulo Bastos

Bate sete, oito, nove da manhã, e lá vai uma penca de tijucanos e agregados descendo as escadas da estação da Praça Saens Peña. O corre-corre começa quando ainda se está comprando o bilhete, ou recarregando o pré-pago, ao primeiro ruído sobre os trilhos. Trem chegando. Na plataforma estreita, executivos, estudantes, secretárias, vovôs e vovós, aglomeram-se em frente à faixa amarela que determina o posicionamento das portas dos vagões. O trem, por sua vez, invade a via, desmanchando o penteado dos recém-banhados, que, para o azar dos ansiosos e supostamente bem situados, nunca para no local sinalizado.

Tensão. A aglomeração fica ainda mais densa. As portas demoram a destrancar-se. Mais tensão. Aquela senhorinha da esquerda quase deixou escapar algo pela boca, mas ficou quieta. Mesmo assim, sabemos o que falaria. “Pronto, perdi meu lugar, fiquei para trás. Droga!”. Engravatados aferram suas mochilas contra o corpo numa forma de disparar a mil por hora no momento de ataque. O desejo por um assento é quase animal. Na Linha Dois, numa análise do que comumente se vê, essa animalização é exteriorizada. Na Tijuca, a vontade de dar aquela cotovelada no cara ao lado fica só em pensamento. E arde por dentro.

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A composição é prontamente invadida e, dali, exaltam reações, muitas delas faciais. Os que perdem a disputa para sentar, disfarçam, mas não conseguem. Adquirem a chamada cara de bunda. Outros olham feio para os espertinhos da Afonso Pena e São Francisco Xavier, que voltaram no sentido zona norte a fim de viajar sentados. Uma vez mais as reclamações e os xingamentos ficam em pensamento, e a irritação vai aumentando à medida que se nota que o trem só partirá da Saens Peña quando ele já estiver bem cheio. E ainda faltam as outras estações tijucanas.

Os passageiros da São Francisco Xavier e Afonso Pena que preferiram encarar o metrô do jeitinho que ele é quando chega por lá, no sentido zona sul, entram sempre com a mesma cara de resignação. Já se acostumaram com o fato de que nunca vão acomodar seus traseiros na expedição ao trabalho embarcando nessas paradas metroviárias. Em geral, carregam um desses jornais Metro ou Destak no punho, em forma de canudo. Para eles, tentar é um verbo recorrente. Tentam abrir o jornal e não conseguem, pela saturação precoce de ocupação do metro quadrado. Caso positivo, tentam lê-lo, mas são impedidos por alguma freada brusca, que joga todo mundo em cima do outro. Tentam encontrar uma forma confortável de posicionamento, mas sabem que o pior está por vir: a estação Central do Brasil.

A tensão regressa, e potencializada. Ela se propaga entre todos os passageiros tão logo se vislumbre, pela janela enfeitada de propagandas, o panorama da plataforma na Central. Um oceano de gente que vai se engalfinhar com o outro oceano já presente e acomodado dentro do vagão. Há o ditado que, em casa de pobre, onde come um, comem dois. No metrô, sentido zona sul, 8 horas da manhã, parado na Central, onde cabem 5, cabem 30. E não se sente mais o ar condicionado.

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Esse é o momento em que os tijucanos mais chiam e mais se entrosam uns com os outros. É como se fosse um bloco único de pessoas lutando pelo mesmo interesse contra o objetivo rival – o deles, de viajar “em paz”, numa onda meio separatista, e a galera da Central, de entrar e tirar vantagem de algum lugar ali dentro, que lhes favoreça durante o percurso. Mergulhando no mundo das expressões populares, esse é o vulgo “mal chegou e já quer sentar na janela”.

Vale lembrar que a rivalidade é apenas metafórica, pois ninguém odeia ninguém. Na verdade, ninguém passar a odiar mais ninguém só a partir do momento em que o metrô ultrapassa Uruguaiana, Carioca e Cinelândia, onde se elimina todo o excedente populacional de uma única composição. É como essa gordura da cintura, que nos pertence, mas que só vai embora depois de muito esforço, ginástica e suor. Exatamente como são as viagens do metrô carioca.

Na Glória, todo mundo já está de pazes feitas. As caras, antes esmagadas umas nas outras, agora são tampadas pelos mesmos jornais que não conseguiam ser lidos. Os ouvidos, antes livres para ouvir um mix de conversas alheias, agora são protegidos por fones de ouvido. As mãos, antes imóveis, já podem tatear aquele objeto do fundo da mochila ou as teclas do celular. Os meus olhos, até então criticamente observadores, unem-se aos movimentos da boca, e, num largo sorriso, constato a graça disso tudo.

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