Um fim de semana em Paquetá: a ilha em que todo mundo vai quando criança, mas esquece de voltar na fase adulta
Panorama da Praia Grossa, próxima à estação das barcas, com a emblemática casa rosa que serviu de filmagem para a telenovela “A Moreninha”, na década de 70.
por Pedro Paulo Bastos
Garça, ave comum pelas praias da Ilha
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A primeira vez que estive em Paquetá o meu humor estava detestável. Fazia um calor insuportável, a água da Baía de Guanabara imprópria para banho e a fome reinava quase que continuamente. A cestinha de lanche que minha mãe preparara para um possível piquenique acabou rapidamente, já durante a viagem nas barcas, e os restaurantes de lá não eram assim tão abundantes, muito menos ágeis no atendimento. Isso foi há mais de quinze anos, eu era um moleque. Nesse último fim de semana, entretanto, minha família decidiu que passaríamos um fim de semana por lá, na Ilha de Paquetá, para comemorar o aniversário de uma das minhas tias. Ao todo fomos em um grupo de onze pessoas. O objetivo foi comemorar o seu cumpleaños de forma nada tradicional, além de, claro, trazer à tona as mais remotas memórias da ilha que povoou, por algum momento, a infância de nove entre dez cariocas. Sim, esses números eu afirmo com convicção!
A perspectiva hoje, para mim, foi toda diferente do que a da última vez. O passeio nas barcas, sempre agradável para Niterói – exceto nas horas de rush, em que tudo parece ser um verdadeiro tsunami de gente -, é ainda mais interessante em direção à Ilha de Paquetá. Passar por debaixo da Ponte Rio-Niterói dá uma sensação de pequenez diante daquele monstro semi-aquático. Avistar o Centro do Rio, com seus espigões e com o lindo contorno do morro ao fundo, é uma outra atração para os passageiros. Eles se amontoam na popa para tirar fotos ou simplesmente para sentir o vento na cara. A viagem dura, aproximadamente, setenta minutos. Mar aberto, com uma ou outra ilhota perdida pela baía. Se estiver revolto, a barca dá aquela balançada perfeita para uma soneca não-programada. Ela aporta na Praça Pedro Bruno, no “centro” de Paquetá, em meio ao olhar impaciente e curioso de outros passageiros que esperam para embarcar. Os que chegam, se misturam ao falatório e às risadas naturais propiciadas por um local livre de corre-corre, estresse e poluição.
A partida da Praça XV pela Baía de Guanabara pelas barcas é um belo passeio. Se não me engano, a barca que faz o percurso para Paquetá é sempre a mesma, com o nome de Itapuca.
Ficamos alojados numa simpática pousada de frente para a Praça Bom Jesus, a poucos passos da estação das barcas. Ela é oficialmente a mais antiga praça de Paquetá. Segundo o livreto Reviver Paquetá, promovido pela Casa de Artes Paquetá, foi na Praça Bom Jesus onde se comemorou pela primeira vez o Dia da Árvore no Brasil, em 1904. Aprofundando-me mais em informações utilitárias sobre o local, é importante enumerar algumas coisinhas sobre lá. Primeiro, vou contar uma anedota, de uma hóspede que chegou a essa pousada questionando como ela fazia para ligar para o Rio de Janeiro. A resposta foi simples, por parte de alguém responsável na recepção: “Do mesmo jeito que o senhor/a senhora costuma fazer. Nós estamos no Rio“. Lá é tão diferente do resto da cidade que esquecemos ou ignoramos o fato de Paquetá ser um bairro do munícipio do Rio, além de ser nome também de uma região administrativa acoplada à Subprefeitura do Centro.
Depois do farto almoço no Paquetá Iate Clube (fica a dica!) e da sobremesa na sorveteria (gostosa e barata, R$ 1,80 a bola) em frente à Praça Pedro Bruno, foi a vez de aproveitar o sábado de sol rodando a ilha da melhor forma: de bicicleta. Eu, meu primo e sua namorada alugamos três magrelas com um rapaz na Rua Comendador Lage (R$ 4 por hora), que ajustou gentilmente todos os apetrechos delas para nós. Eis o momento mais divertido, porque fomos nos embrenhando naquele labirinto de ruas sem asfalto e conhecendo mais de Paquetá. Às vezes tomávamos cuidado com a poeira de terra que pairava pelo ar ocasionada pelos cavalos das charretes. Nossa referência era sempre a orla, que a qualquer manobra que fizéssemos, chegávamos nela. Foi de bicicleta que tivemos o privilégio de assistir ao seu pôr-do-sol, na Praia José Bonifácio. A Ilha do Governador, ao fundo, começava a tornar-se brilhante com as suas numerosas edificações. O céu passava por uma transição fantástica de cores fortes para frias. Do laranja ao rosado, do rosado para o roxo cintilante, e a pelotona de fogo que é o sol, desaparecendo aos poucos, até ficar tudo escuro.
As charretes, meio de transporte mais comum em Paquetá, contam com éguas que levam um enfeite florido no cocuruto. Ao lado, a Praça Bom Jesus.
A bicicleta é o segundo e último meio de transporte existente na ilha. No anoitecer, é a melhor opção para percorrer Paquetá e o seu pôr-do-sol, em diferentes ângulos.
A sinalização das ruas é feita com blocos
de pedra, remetendo à era dos Flintstones |
O Parque dos Tamoios conta com um paisagismo caprichado e um busto de Carlos Gomes, em homenagem ao compositor. A maioria das casas conta com árvores ou jardins floridos.
À esquerda, a Rua Doutor Lacerda, em direção à Praia José Bonifácio. Em seguida, casa de muro baixinho na Praia das Gaivotas. Observe a placa de trânsito, indicando limite máximo de 20 km/h, embora não circulem automóveis por ali.
O pagode chinês, conhecido
também como Chácara da Moreninha |
A Casa de Artes de Paquetá tem um estilo mais colonial, com janelões, enquanto a chácara dos fundos foi inspirada nas curvas artísticas do arquiteto catalão Antoni Gaudí.
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