Parada de Copa: Porque o espírito notívago do Cervantes não morreu
Novo bar do dono do Cabidinho preenche a lacuna dos sanduíches caprichados e do chope bem tirado do clássico bar da Prado Júnior, provisoriamente fechado
Fim de semana passado, o périplo rumo à movimentada esquina da Barata Ribeiro com a Figueiredo de Magalhães foi intenso. De dia e de noite, era um tanto de gente indo cumprimentar os garçons e balconistas do novo boteco que acabara de abrir ali. Muitas pessoas até emocionadas. É que nas trincheiras do novíssimo Parada de Copa, inaugurado sexta-feira passada ali naquela esquina, estão pelo menos 15 ex-funcionários do Cervantes de Copacabana, recentemente fechado provisoriamente por dificuldades financeiras agravadas pela Covid.
Começando pelos funcionários, passando pelo cardápio e terminando no horário elástico de funcionamento, o Parada de Copa traz o Cervantes no seu DNA, mas não só. O dono é seu João Brandão, muito conhecido dos fiéis frequentadores do Bar Cabidinho, em Botafogo, que também é dele e que até a chegada da pandemia funcionava 24 horas por dia, seis dias por semana. Seu João também já era dono do espaço em Copacabana, onde funcionava uma casa de sucos. Dois meses atrás, quando aproveitava mais uma período de fechamento compulsório imposto pela Covid para reformar o lugar, seu João começou a receber visitas de ex-funcionários do Cervantes recém-dispensados (em negociações amigáveis, vale dizer) pedindo empregos. “Mas não eram um ou dois. Vieram praticamente todos me procurar”, lembra seu João. Aí veio a ideia: em vez de reformar a casa de sucos, porque não abrir um bar inspirado pelo vizinho notório que por ora sofre mais com a pandemia? E foi aí que surgiu a ideia do Parada de Copa.
O cardápio já diz tudo: 29 sanduíches, encabeçados pelo “especial”, que é rigorosamente o mesmo especial que nós, boêmios notívagos e esfomeados, estávamos acostumados a pedir no Cervantes há décadas: filé, patê e abacaxi, que no meu caso eu ainda peço para acrescentar um queijinho, transformando o sanduíche numa lauta refeição, pra fazer a gente ir dormir feliz.
Mas o balcão de frente pra rua – ladeado por um salão amplo e bastante arejado, sem porta nenhuma apesar do ar-condicionado potente – reserva muitas outras atrações (o cardápio é enorme, como é o do Cervantes) e alguma surpresas. Como a pizza, por exemplo, também ao estilo notívago, que fará muitos adeptos se lembrarem dos bons tempos da Pizzaria Guanabara e suas concorridas fatias de balcão.
O chope, lógico, também merece um capítulo à parte. A serpentina, estalando de nova, tem nada menos que 150 metros de extensão. O chope Brahma sai fresco, gelado e sem nenhuma impureza. Mais curioso ainda são os planos de seu João para ela. A ideia é crescê-la aos poucos, até chegar a incríveis 900 metros, daqui a dois anos. Se acontecer mesmo, dará ao novo bar o título de dono da maior serpentina do Brasil, superando até mesmo a do icônico bar Pinguim, em Ribeirão Preto, que possui 800 metros de extensão.
Por causa da pandemia, o Parada de Copa ainda opera com limitações. O salão tem menos mesas. Algumas foram deslocadas para a calçada – o que não chega a ser a melhor opção visto que o bar está colado no trânsito intenso da Barata Ribeiro – mas quebra o galho especialmente para quem, com toda a razão, ainda evita salões de bares e restaurantes. E o horário, por enquanto, ainda não é 24 horas por dia, como previsto. De terça a quinta, fecha às 2h. Sexta, sábado e domingo, vai até os extertores da madrugada, por volta das 4h. Segunda fecha. E ficará assim até a OMS declarar o fim da pandemia.
Nesses tempor terríveis que vivemos, não deixa de ser um ato de coragem e ousadia. Mas com responsabilidade, como deve ser. Vale a visita. Delivery ainda não tem. Quando começar, eu aviso.
O Parada de Copa (@paradadecopa) fica na Rua Barata Ribeiro 450, do lado direito, bem próximo da esquina com a Figueiredo de Magalhães.