Meio século depois de fazer história com a estreia de O Rei da Vela, Zé Celso Martinez Corrêa apresenta nova montagem para o texto de Oswald de Andrade. O espetáculo, prestigiado por 15 000 pessoas em apenas dezenove sessões na temporada paulista, estreia no sábado (14), na Cidade das Artes. Também no elenco, o ator e diretor vem ao Rio — mas antes solta o verbo, comparando as cenas políticas de ontem e de hoje.
Como a obra de Oswald de Andrade se comporta após meio século?
O texto do Oswald foi escrito durante a ascensão do nazismo, em 1933. E vivemos essa era outra vez. Corremos o risco de ver um nazista na Presidência. Assim como em 1967, acaba de haver um golpe, não é? Na época, sentíamos que era preciso resistir de uma forma diferente da qual estávamos lutando. A peça foi um sucesso, como uma primavera, e agora isso está acontecendo de novo.
Há motivo para esperança, portanto?
Este vai ser um ano muito movimentado artisticamente, a gente tem de fazer de tudo para não terminar num AI-5. No Rio já tem quase uma ditadura com essa intervenção militar. Mas vamos rir muito. A situação só se derruba no deboche, vamos comer esses caras.
Que balanço faz dos sessenta anos de carreira?
Faço um teatro xamânico, que, além do lado social, é cosmopolítico, transa com o público. Fiz 81 anos. Sou cardíaco e posso morrer de uma hora para outra. Sou sexagenário de teatro, com mais de cinquenta anos de maconha. Depois de morto, vou continuar e, como sou um ator louco, volto para assombrar.