A coluna conversou com a carioca Kelli Rodrigues, psicóloga e neurocientista, professora convidada de universidades como UFRJ, Estácio e IBMR; pesquisadora de estudos sobre suicídio, autoestima e saúde mental da Fiocruz, INCA e OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Questionamos a saúde mental da população nesse momento delicado e desafiador. O que fazer? Como se cuidar? Em rápida entrevista, foram apontadas diferenças sobre doenças da esfera psicológica muito faladas nos dias de hoje.
1) O tão falado Burnout se instalou de vez. Como pedir ajuda numa hora dessas se o profissional não pode parar?
Nessa conjuntura, torna-se fundamental se ter o controle emocional e a necessidade imediata de se acionar o autoconhecimento. Sendo assim, a ajuda profissional pode ser atrativa para que a pessoa consiga se perceber, discernir e reconhecer os seus limites em uma época tão extrema. Ademais, esse auxílio pode ser interessante para turbinar a sua eficácia profissional, com plenitude e assertividade, dentro do aspecto de sua utilidade. Deve-se evitar que nessa contínua execução de tarefas, o processo de labor o leve para a exaustão mental, onde ocorre a parcial ou total paralisação, com o comprometimento funcional. É importante também desenvolver esse processo de autorregularão emocional, para que não deixe abaixar o seu nível de energia, com um possível enfraquecimento de sua autoestima, não se permitindo assim a abertura dos portais para o adoecimento psíquico.
2 – Como diferenciar o Burnout de depressão, estresse ou outro diagnóstico parecido?
Burnout, depressão e estresse são problemas de saúde específicos. Apesar de terem sintomas semelhantes, as três condições são tratadas e classificadas de maneira distinta pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O burnout não é uma condição médica, mas um fenômeno ligado ao trabalho. Já a depressão é uma doença psiquiátrica crônica. O estresse, por sua vez, é uma resposta do corpo às circunstâncias do dia-a-dia. Ele pode ser um indício de alguma doença ou apenas uma reação pontual a condições externas, negativas ou positivas. burnout: é uma síndrome resultante de estresse crônico e necessariamente tem origem no ambiente de trabalho; depressão: é uma doença psiquiátrica crônica, que afeta pessoas de todas as idades; estresse: é uma reação fisiológica automática do corpo a circunstâncias que exigem ajustes comportamentais.
3- Em tempos de pandemia, quais as maiores queixas das pessoas ?
A maior queixa do momento atual passa pela falta da finitude ou amenização da pandemia do Coronavírus. Essa situação está gerando em todos nós uma sensação de desesperança e desespero. Evidentemente, o excesso de trabalho virou uma constante para os profissionais da área de saúde.
4– Como prevenir a Síndrome burnout?
Existem meios de se prevenir e de se tratar o burnout. A prevenção se dá por meio de práticas simples e até mesmo prazerosas, que acabam não exigindo tanto, como a prática de exercícios físicos. Parte dessa condição acaba causando problemas físicos, isso sem mencionar as tensões musculares que muitas vezes impedem até mesmo a locomoção. Nesse sentido, os exercícios físicos não só ajudam a liberar toda a tensão dos músculos, como também criar uma rotina saudável. Além disso, pode-se encarar a atividade como um momento de relaxamento e de autocuidado. A alimentação correta e balanceada permitirá a ingestão de nutrientes e vitaminas adequados para o seu dia a dia. Eles ajudarão a repor as energias e, assim, você acabará se sentindo mais preparado para sua rotina. Ter momentos de lazer e relaxamento são fundamentais para descansar a mente e o corpo. Esses instantes são muito importantes tanto para a prevenção quanto para o tratamento da síndrome. Um dos motivos que levam à síndrome de burnout é a existência de uma cobrança extremamente excessiva de si mesmo. Uma busca pela perfeição que simplesmente não existe. O importante é se desligar do trabalho para conseguir relaxar a mente e o corpo. Acredite: o mundo não vai acabar se você descansar um pouco.
5- O psicólogo Adam Grant, da Wharton School, autor do livro “Think Again: The Power of Knowing What You Don’t Know”, nominou esse sentimento coletivo e disse que as pessoas estão “definhando”, numa sensação de estagnação e vazio. Concorda?
Sim, esse definhamento se dá, por estarmos na condição ansiosa, enganada e totalmente fora da realidade, ao negar a periculosidade do momento atual que vivenciamos. Se percebermos e entendermos a tal gravidade da situação e o tempo relativamente determinado para esse combate, não existirá a sensação de vazio, porque a realidade estará pautada em cima de uma verdade. Cria-se então, uma programação mental para essa espera.
6 – No seu ponto de vista, quais as doenças da próxima década?
Transtornos compulsivos, drogas lícitas, ilícitas e prescritas., depressão, ansiedade, psicoses, comportamentos inadaptativos, tais como os de impulsividade, irritabilidade, agressividade, humor deprimido, oscilação de humor e o egocentrismo que estamos encontrando nos casos de pessoas que necessitam frequentar locais com aglomerações indevidas.
7 – Muitos casais que estão convivendo na pandemia, mais do que o normal, relatam redução da libido, além dos filhos presentes 24h etc. Como consertar isso?
Deve-se cuidar da saúde emocional e fortalecer a autoestima de cada um dos parceiros. Não se deve deixar o relacionamento cair no desgaste, na prostração e na procrastinação. Deve-se tentar manter uma vida ativa e produtiva, mesmo nos tempos atuais. Fatores negativos podem nos proporcionar movimentos de aberração, tais como: viver fora da realidade e acreditar no impossível.