Em setembro de 2006 o Brasil se cobriu de um manto de tristeza e comiseração com a morte de 154 brasileiros vítimas de um dos acidentes aéreos mais dramáticos da história da aviação brasileira, com um Boeing e seus ocupantes lançados aos pedaços sobre a floresta Amazônica.
Esta pandemia matou, ontem, o equivalente a queda de mais de dez Boeings no Brasil, mas alguns brasileiros ainda insistem em negar a gravidade, dramaticidade e tristeza do momento, por estarem certos de que a estatística só se faz com o outro ou com a família do outro. “A esteira de devastação deixada pelas mais 259 000 vidas ceifadas por este vírus, não é o bastante para despertar o mínimo de humanização, cidadania e respeito naqueles que insistem nas praias, festas e amontoados de insensíveis a letalidade da Covid-19”, lamenta Dênis Calazans, médico e presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
Para o médico, a rotina é o mais cruel e perverso elemento da vida. Ele afirma que é assustador a capacidade do ser humano em se deixar levar por uma rotina nefasta, tornando-o indiferente e insensível a tudo que perfaz o momento e local que vive.
Livre de qualquer viés político, e ciente da crise econômica gerada por esta pandemia em todos os setores, o médico afirma que é preciso um choque de atuação das autoridades sanitárias e políticas, “pois do contrário ficaremos neste “abre e fecha” de quarentena, que mais se parece uma ‘quareterna’, sem solução efetiva, tornando a próxima ‘abertura/flexibilização’ mais letal e vermelha”, explica. Calazans diz que é oportuno lembrar Albert Einstein no seu brilhantismo de pensamento: “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”.
Segundo o presidente da SBCP, é hora de uma decisão definitiva e uma estratégia coletiva. “Da população: educação, conscientização e disciplina. Das autoridades: ação, vacina e humanização. Do contrário, eu, você ou alguém que amemos podem estar no próximo Boeing”, finaliza.