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Falta de um bom Censo

Atrasado três anos, o Censo Demográfico chega a sua reta final com muitos desafios na sua execução

Por Carla Knoplech
22 mar 2023, 17h19
Censo Demográfico 2020: atraso trará consequências ruins para o país
 (Divulgação/Divulgação)
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Eu comecei a dar aulas em 2017. Nunca havia sido professora antes, então fui montar o meu método expositivo que começava com uma linha do tempo sobre a utilização da internet no Brasil. Uma informação bem básica para que os meus alunos, a partir disso, entendessem o contexto amplo em que se inseria o assunto “Criação de Conteúdo”, isso – pasmem – há seis anos, imaginem só o quanto tudo mudou de lá pra cá. Pois bem. Fui consultar o último Censo realizado, o de 2010, e já naquela época me causava um certo incômodo ter que lidar com números discrepantes aos da realidade em que vivíamos como, por exemplo, a quantidade de pessoas que acessava a internet em domicílio.

O Censo de 2010 aconteceu antes da explosão do 4G e da proliferação dos milhares de modelos de smartphones no mercado. Aconteceu antes do WhatsApp ter dados gratuitos pelos operadoras, antes das redes sociais virarem verdadeiros canais de informação para uma grande parcela da população. Era distante, portanto, a realidade que eu apresentava nos slides em relação ao que os meus alunos já sentiam em sala de aula. Mas como o Censo Demográfico era de dez em dez anos, não havia o que fazer, senão, esperar ansiosamente pela nova pesquisa nacional. E eu falei ansiosamente sobre isso em todas as salas que entrei.

Acontece que fomos atropelados nesse meio tempo por um governo negacionista que não só questionou o IBGE como desidratou os seus recursos fazendo com que o Censo de 2020 atrasasse. À época, ancorados na pandemia da Covid19, esse assunto passou ao largo de tantas urgências e não teve a atenção que mereceu. Hoje, três anos depois, às vésperas dos recenseadores terminarem com muitos desafios os seus trabalhos, volto ao tema sobre o qual falo insistentemente há anos: roubaram a nossa história. Lembro que quando a pandemia começou e a notícia de que o Censo não sairia em 2020 foi divulgada, eu fiquei muito decepcionada exatamente porque estávamos vivendo um capítulo surreal no cenário mundial e era preciso garantir esses dados de crescimento e transformações até 2020 para então depois compara-los. Me interessava especificamente os nossos saltos em termos de Educação, Saneamento, acesso à Internet, Natalidade, mas também todas as outras informações incríveis que um Censo Demográfico traz.

A divulgação de uma pesquisa do tamanho e profundidade do Censo traz impactos econômicos e sociais intangíveis. É a partir desses dados e dessa pesquisa quantitativa que a União faz repasses aos municípios (o Fundo de Participação dos Municípios é uma parcela do Imposto de Renda e do Imposto sobre Produtos Industrializados), que distribui-se a quantidade de vacinas dos planos de imunização nacionais (que são baseados na faixa etária dos municípios), que são contadas ocupações ilegais em terras, construções fora dos padrões urbanísticos, que o Fundeb (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica) baseia as suas metas e até mesmo os números de representações políticas são baseadas no Censo. Esse estudo é de extrema importância e por mais que entre um Censo e outra haja Pnads (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) elas não são suficientes para entendermos onde evoluímos e no que há retração.

Os recenseadores desse ano enfrentaram também um problema novo que foi a desconfiança sobre o trabalho deles, argumento cultivado no fértil ambiente de desmonte das instituições públicas, uma das pautas preferidas do governo Bolsonaro. Em um país dividido em que a desinformação é um projeto intencional, o IBGE teve que criar uma campanha voltada à esclarecer o trabalho dos recenseadores, divulgar a importância do Censo e um método rápido de checagem das matrículas desses profissionais que muitas vezes foram impedidos de entrar em complexos inteiros de determinadas regiões. Lamentável.

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Agora estamos nos dirigindo para o que parece ser o fim dessa novela, com um Censo saindo três anos após o previsto e análises muito importantes que falam sobre como essa pesquisa encontrou dificuldades para ser feita e por isso tem mais etapas “estimadas” que o normal, o que gera uma certa insegurança com relação ao seu resultado final. Tenho ouvido especialistas no assunto dizerem que este foi de longe o Censo mais difícil de ser realizado. Me entristeço pelas condições em que ele foi coletado (atraso de pagamentos, verba insuficiente, desinformação), mas fico muito feliz por finalmente termos esses treze anos da nossa história registrados. Um país sem Censo é um país sem memória, sem planejamento, sem compreensão de si mesmo. Vamos torcer para a conclusão desse projeto o quanto antes e da melhor forma possível.

Carla Knoplech é jornalista, fundadora da agência Forrest, de conteúdo e influência digital, consultora e professora no Método Pipa

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