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Carla Knoplech

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Brilho eterno de uma timeline autorreferente

Como as redes sociais constroem um sentimento opressor de totalidade, quando na verdade operam através de bolhas customizadas

Por Carla Knoplech
Atualizado em 6 ago 2021, 13h30 - Publicado em 5 ago 2021, 20h23
Brilho eterno de uma bolha autorreferente
Você já sentiu F.O.M.O. nas redes sociais? (Divulgação/Divulgação)
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Você pega o celular para rolar despretensiosamente o feed do Instagram e alguém posta a capa de um livro com um título interessante. A legenda provoca: “Pare tudo que está fazendo e vá ler este livro”. Coincidentemente, dois Stories pra frente, o livro é tema de uma Live entre dois pensadores contemporâneos que você adora. No seu grupo fechado do Facebook há a indicação de uma nova série da Islândia que promete redefinir o conceito de suspense. Mais uma zapeada e – pasmem – a série é a indicação da semana daquela influenciadora de cultura que você acompanha há anos. O Twitter está monotemático hoje. Sobram piadas internas sobre uma sequência de vídeos de um novo Youtuber que é o melhor de todos os tempos da última semana. Você, que não o conhecia, rapidamente se sente um peixe fora d’água por não ter a mais vaga ideia do conteúdo que ele produz. Essas sensações lhe são familiares? Você alguma vez sentiu F.O.M.O. (fear of missing out) por não ter lido o livro da moda ou visto a série sobre a qual todos falam? Pois é. Esse sentimento é real e tem explicação.

Não raro, grupos que comungam de ideias e valores parecidos em um ambiente digital, ou seja, que se seguem e interagem entre si, propagam a lógica do consumo de maneira sutil com o uso das redes sociais. Um simples Stories com a capa de um livro, se visto de maneira repetida por pessoas aleatórias as quais você segue, constrói um imaginário comum que te influencia e traz a sensação de que “todo mundo está lendo este livro” ou então que “só eu não estou lendo este livro”. Indo mais a fundo na semiótica desses posts no contexto digital, é como se este livro tivesse um valor maior em relação aos demais. É como se lê-lo hoje fosse mais importante do que ler qualquer outro livro, já que consumi-lo atende a uma lógica de pertencimento traçada por esta timeline que se autorreferencia o tempo todo. Você faz parte do grupo se leu este livro. Você entende códigos específicos se leu este livro. Portanto, você é especial se leu este livro. Simples assim.

O que está nas entrelinhas, entretanto, é a percepção de que todos nós que consumimos conteúdo via redes sociais vivemos em bolhas. Ainda que não tenhamos essa noção de maneira consciente e diária, ao seguirmos um determinado número de pessoas construímos um universo em que o conteúdo criado por essas pessoas constituem a totalidade do nosso mundo. As postagens desse grupo representam o todo pra você. Por isso, inclusive, é tão comum o erro de percepção que indaga a relevância de um assunto para terceiros que estão fora dessa bolha. “Este é o assunto do dia, como você não viu? As pessoas só estão falando sobre isso!”. Não. A sua bolha só está falando sobre isso. Na bolha do vizinho, esse assunto sequer foi citado. E dessa forma percebe-se que apesar de gratuita e com livre acesso a qualquer tipo de conteúdo, a internet é um recorte individual para cada usuário, é uma realidade customizada e pessoal.

Logo, quando a sua bolha se autorreferencia e compartilha pensamentos, dicas de produtos, sugestões de entretenimento ou quaisquer outra forma de indicação, ela está desempenhando um comportamento de manada em tribo. Está se auto agradando. Você não está atrasado perante ao mundo se não leu o livro, viu a série ou experimentou o restaurante da vez. A influencia que seus vizinhos digitais exercem sobre você é legítima, mas cabe a você decidir se é também nociva.

Carla Knoplech é jornalista, fundadora da agência Forrest, de conteúdo e influência digital, consultora e professora

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