A cena era clássica: reunião marcada para às 17h. Participantes se encontravam às 16h55, água no corredor, conversas acaloradas de um reencontro ocasional, comentários sobre vestimentas ou o tempo lá fora, adequação da temperatura ambiente, piadas introdutórias, o “small talk” ou conversa fiada para, enfim, começar a reunião. Um fala, todos escutam, interrupções, anotações, expressões faciais, café, argumentações, fim do encontro. Mas já que todo esse ritual foi substituído por apenas um link no Zoom (ou no Google Meet, ou Microsoft Teams, insira aqui o seu programa favorito para realizar vídeo-chamadas) por que, então, é que ficamos tão mais cansados fazendo reuniões virtuais do que presenciais?
São vários os motivos. A começar pelo fato de que quando estamos em uma vídeo-chamada, compreendemos apenas duas dimensões, o que obriga o nosso cérebro a fazer muito mais esforço e demandar muito mais gastos de energia para detectar todos os tipos de informações que a linguagem corporal ao vivo detectaria. Um franzir de testa, uma expressão de descontentamento, uma onomatopeia de excitação, um respiro profundo de impaciência, um olhar direcionado para alguém na sala, tudo isso conta como experiência quando estamos ao vivo. No vídeo, é só você, o seu microfone ligado e uma retórica ancorada no que você está conseguindo captar de sinais dos outros participantes da reunião. Isso se as câmeras deles estiverem abertas, é claro.
A concentração exigida para uma vídeo-chamada é muito maior que a de um encontro ao vivo. A “Zoom Fatigue”, como foi alcunhada a expressão desde que a pandemia impôs um ritmo industrial de reuniões virtuais para quem trabalha à distância, é real, suga a energia e é um fenômeno estudado e compartilhado mundo afora. Uma das maiores causas que levam a esta exaustão é o esforço que temos que fazer para demonstrar que estamos prestando atenção no que está sendo falado. Há que se olhar constantemente para a tela, por exemplo. Fato esse que não é necessário em um encontro ao vivo onde é possível perceber que alguém está interessado no que está sendo falado de formas não-visuais. Já experimentou, por exemplo, ter uma postura digamos “relaxada demais” na cadeira para perceber a sensação de desleixo que isso provoca?
Outra questão interessante é que temos o hábito irresistível de olharmos para nós mesmos em uma vídeo-chamada. Esse hiper foco nos torna críticos das nossas próprias expressões faciais, o que gera um autocontrole excessivo que não nos deixa relaxados pelo tempo que durar o encontro. Ficamos preocupados com a imagem que estamos passando o tempo todo. Por isso não é raro acabarmos uma chamada de 30 minutos, por exemplo, e tirarmos o microfone cansados, como se o encontro tivesse valido por uma reunião de uma hora em que não “baixamos a guarda” por um minuto sequer.
Por fim, mas não menos importante, um tópico que ao vivo tem diversas interpretações, por vídeo fica terrivelmente assustador: o silêncio. Experimente acabar de falar em uma vídeo-chamada e não receber uma réplica em menos de cinco segundos para ver só. Os participantes quase têm a necessidade imediata de preencher os espaços de maneira automática para não gerar um clima de mal-estar, o que ao vivo poderia soar como um processo natural da compreensão de um argumento ou uma contemplação pensativa sobre alguma elucubração interessante.
Em épocas de reuniões à distância, onde empresas inteiras não têm previsão de voltar ao convívio diário e uma nova realidade é orientada a partir da facilitação que a internet nos trouxe redobrar os cuidados para perceber possíveis sintomas de estresse que abalam a saúde mental é preciso. As pistas não-verbais deixadas em um encontro ao vivo não são transpostas para o ambiente digital. Termômetros da linguagem corporal e de um ambiente onde todos compartilham da presença de um grupo são insubstituíveis remotamente. Sete meses depois do início da pandemia é hora de reavaliarmos a forma de fazermos vídeo-chamadas para que elas fiquem mais dinâmicas e menos cansativas.
Carla Knoplech é jornalista, fundadora da agência Forrest, de conteúdo e influência digital, consultora e professora