Os foodies de plantão acompanharam ansiosos a premiação do World’s 50Best awards, que aconteceu hoje, na Bélgica.
Como comentei aqui na última coluna, rankings não devem ser vistos como bíblias, e sim como uma lista de sugestões feita por gente que gosta de comer. Garanto que comparar premiações nos ajuda, no mínimo, a limitar o prejuízo de restaurantes que escolhemos no escuro.
A lista dos melhores começou totalmente eurocêntrica, mas a revisão de critérios e jurados fez com que, agora, já existam 24% de restaurantes asiáticos, 13% de norteamericanos, outros 13% de sulamericanos, além de 3% de africanos e 2% da Oceania, dentre os 100 primeiros colocados. Melhorou, claro, mas Índia e o Oriente Médio, por exemplo, ainda estão fora do radar, apesar da organização prometer que isso mudará.
Concordemos ou discordemos dos vencedores, não há como não torcer pela volta dos prêmios e da cena gastronômica tão abalada pela pandemia.
Tivemos o prazer de ver a queridíssima Casa do Porco, de São Paulo, entre os 50 primeiros, com a 17ª colocação, mas é importante ressaltar que há dois cariocas (Lasai e Oteque) entre os 100 primeiros do Mundo, e isso não deve ser desprezado.
Apesar de ser feliz e assídua frequentadora de botecos, discordo do termo “baixa gastronomia” como retrato daquilo que se faz no Rio de Janeiro. Não só acho o termo pejorativo e nada representativo da riqueza de um botequim, como também entendo que nossa cidade é diversa e capaz de atender a vários públicos, haja visto o ranking desse ano, que não é exatamente popular.
Quem acompanha a horda foodie de perto, sabe o quanto as premiações e foruns gastronômicos são importantes para a economia das cidades que entram oficialmente do mapa dos gulosos. Nunca vi tanta gente que nunca cogitou visitar Lima ou Copenhagen, por exemplo, lotando voos disponíveis só para fazer fotos nos restaurantes premiados da vez. Eventos como esse atraem, de início, um pequeno mercado de luxo, mas arrastam mídia e personalidades criando uma onda de interesse que se propaga por todas as classes e gera um fluxo importante de turistas para o país e cidade mencionados.
Não custa lembrar que o turismo gastronômico está entre os maiores impulsos para viagens no mundo e que o gasto com refeições é UM TERÇO do gasto total, em viagens. Ou seja, apostar em gastronomia não é apostar num mercado de nicho. O que muda é o ‘tipo de gostar’, que depende da profundidade do bolso do viajante.
E agora falo de governos.
Na gradual retomada do turismo, temos pessoas ansiosas para sair de suas cidades e países, desde que com segurança. Nessa hora, entram as prefeituras (e acho que, nesse quesito, Eduardo Paes tem feito um ótimo trabalho pela imagem do Rio). Investir em saúde pública, portanto, e dar segurança ao turista para que possa se aprofundar na gastronomia local não é só eticamente correto, mas também muito rentável a longo prazo.
Para além da saúde, as prefeituras devem apoiar todas as faces da identidade gastronômica de uma cidade, seja ela quilombola, indígena, de luxo ou popular, afinal, a gastronomia gera 6 milhões de empregos diretos e indiretos no país.
Como diria meu pai, “o empresário é uma ilha de iniciativa cercada de governo por todos os lados”. Pois bem… já que somos ilhas, está na hora de governos virarem pontes.