Você sabe que tudo pode dar muito errado quando entra num restaurante e a música ambiente é “I did it my way”, tocada em flauta andina.
Fusion é troço complicado, tanto no prato quanto no ouvido. Tenho na cabeça umas regras básicas que não podem ser violadas. Chatice minha, eu sei, mas ritmo e estilo díspares são como ingredientes na receita errada, como manjericão num carbonara. Pra quê, meu Deus?
Não suporto, por exemplo, ouvir um rock clássico com vozinha soprada feminina, em ritmo de bossa nova. Adoro os dois estilos, mas não no mesmo prato.
Volume também é troço complicado: um agudo na hora errada é capaz de azedar minha sopa ou fazer doer meu dente.
Tive a sorte de ter, por alguns anos, a trilha de meu restaurante feita pelo querido Celio Alzer, que comandou um programa musical na rádio Jornal do Brasil e adorava jazz. Era a melhor seleção do planeta, com Chet Baker, Miles Davis, Bill Evans e outros feras, de braços dados com os champagnes, nebbiolos e rieslings que ele mesmo escolhia para a carta. Harmonia impecável.
Apesar disso, há quem não goste do estilo. Uma amiga, por exemplo, me pergunta: “Por que você gosta de um tipo de música em que o trumpetista, o baterista e o pianista tocam coisas diferentes? Eles não se dão?”. Adoro a amiga e amo jazz, mas também não os misturo.
Não sei se sou particularmente sensível a sons – minha mãe diz que tenho ouvido de tísico – mas há frequências, em especial a do celular, com vídeos e áudios estridentes despejados em espaços públicos, que me enlouquecem.
Talvez eu tenha misofonia, aquela coisa de perceber sons de forma anormal e por isso o incômodo, às vezes, pareça tão físico. Ou será que tenho hiperacusia, intolerância à algumas frequências ou volumes de som? Talvez tenha fonofobia, que é medo ou raiva de alguns sons. Não… não acredito que seja um caso grave de nenhuma dessas patologias, mas outro dia um barulho que parecia uma goteira metálica (não chovia), numa janela atrás de minha mesa, funcionou como uma espinha de peixe atravessada em minha goela e arruinou um belo jantar.
Voltando ao assunto, descobri que a música ambiente é capaz de alterar significativamente o comportamento dos clientes num restaurante, até porque a frequência de nossos batimentos cardíacos tende a buscar o ritmo que toca na caixa de som.
E a pesquisa trazia outros dados interessantes: uma música relaxante é capaz de reter os clientes por mais tempo e também aumenta o consumo de bebidas alcoólicas; um ritmo muito acelerado pode levar clientes a desistir de pedir mais de um prato; e um volume alto demais pode causar rejeição ao lugar, ainda que o ambiente seja jovem e animado.
Gostei. Acho que estudar a questão ajudou a amenizar minhas idiossincrasias sonoras. Mas, apesar dos dados generalistas, a moral dessa história é que música é item controverso do menu, capaz de gerar complicações bem pessoais e intransferíveis.
Cuidem bem da sua trilha, meus amigos, para que a casa não saia dos trilhos.