Quem são estas meninas?
Las venezuelanitas! – me disse o motorista de táxi.
Estava no Equador, há ano e meio, quando levantei os números: naquela ocasião, havia mais de 500.000 venezuelanos uno país. Penavam por 2 dias num ônibus até a fronteira da Colômbia e mais 4 horas até Quito.
Chegam todos os dias, sem parar – completou o taxista – e há quem venha a pé.
Da janela do meu táxi, avisto o sorriso “de Miss” de uma das dezenas de meninas que vi vender sorvetes aos motoristas engarrafados no trânsito caótico da capital. Era linda, a moça, e irradiava a alegria de ter (ao menos) um subemprego.
Corta a cena para o Rio de Janeiro, na semana passada.
Há 25 mil venezuelanos, como eu, já aprovados como residentes no Rio, mas não conheço quase nenhum! – exclamava o garçom mascarado de olhos sorridentes que me servia, no almoço de sábado.
Logo que se formou como engenheiro civil, decidiu sair do país. Agora, com 28 anos, espera pela prova que fará na Universidade de Minas, para revalidar seu diploma com especialização em tecnologia e programação.
Desde que chegou, há um ano e meio, disse que o Brasil deu tudo a ele e aos seus conterrâneos: universidades gratuitas, ensino médio e vários cursos técnicos com o apoio do governo e empresas privadas.
Entendo que vocês reclamem das coisas ruins, mas eu só vejo as boas. Eu passava 3 ou 4 horas esperando por um ônibus… era insustentável. Meu país está sendo explorado por chineses e russos ligados ao governo, as empresas petrolíferas foram sucateadas e, agora, só o minério ainda gera alguma riqueza, mas não está nas nossas mãos. Estive um tempo na Colômbia e não me adaptei, disse. Quero ficar aqui no Rio, que me lembra a antiga Venezuela, simpática e receptiva. Todos são muito gentis comigo!
Tem dois irmãos, que não conseguiram sair por conta da pandemia, trabalhando em Salto Ángel, a queda d’água mais alta do mundo (com 807 metros, sem interrupção), colada na fronteira com Roraima. Não vêem a hora de entrar.
Segundo ele, amigos argentinos e uruguaios ainda não conseguiram a residência, mas para os venezuelanos, tudo sai bem rápido.
Tem saudade do pabellón criollo, prato típico, com carne desfiada, ají dulce (pimentas doces), plátanos (primos da banana da terra) maduros fritos, caraotas (feijões) negras, arroz e, por vezes, queijo. Pela descrição, parece muito com a bandeja paisa, colombiana, que pus como foto de capa desta coluna. Como nunca estive na Venezuela, foi o mais perto que consegui chegar do prato que ele descreveu…
Disse que apesar da Venezuela ser do tamanho do Mato Grosso do Sul, as diferenças culturais entre as regiões são imensas. Na Ciudad Bolívar, onde nasceu, o feijão do pabellón é servido picante e com açúcar, mas outras regiões comem salgado. Vocês não sabem o que estão perdendo!, disse.
Fiquei feliz com a energia e esperança contagiantes daquele rapaz que sonha alto, tem a vida pela frente e fala de um Brasil que funciona para alguém. Tanto que, quando perguntou se eu havia gostado do prato – que não estava assim tão bom – respondi, animadíssima:
Muito!!
Gente feliz é sempre o melhor tempero.