Marisa Monte está de volta aos palcos cariocas neste fim de semana, levando sua turnê “Portas” (que já esteve no Jockey em outubro do ano passado) para o “Queremos!” Festival, que acontece no sábado (15), na Marina da Glória.
Este colunista teve a oportunidade de entrevistar essa estrela da nossa música, que falou sobre a volta aos palcos após a pandemia, sobre o conceito artístico de sua turnê “Portas”, sobre seu papel como artista, além de refletir sobre o resgate das nossas tradições musicais e também sobre o patrimônio cultural carioca.
–
Decorrida uma década desde sua última turnê, e após o triste e complicado momento de pandemia, qual é a emoção de estar de volta aos palcos e em contato com o público aqui e no exterior? O que mudou?
Nos últimos anos fiz vários projetos colaborativos. Fiz o projeto Samba Noise no BAM em Nova York, uma turnê nacional com Paulinho da Viola, um álbum inédito e uma turnê internacional e um disco ao vivo com os Tribalistas. Eu sabia que era hora de voltar a mim, à minha expressão solo, mas a pandemia adiou os planos e tornou a expectativa e a vontade de estar na estrada ainda maior. Muito bom viajar e reencontrar amigos, fãs, parceiros e meu público.
O diretor de arte Batman Zavareze projetou imagens de Lucia Koch durante o espetáculo dentro de uma caixa cênica arquitetada por Cláudio Torres, criando interessantes efeitos visuais e preenchendo toda a dimensão do palco. A estética visual do show parece refletir bem a leveza e a irreverência do álbum “Portas”. Confere?
O show é um meio audiovisual onde a gente pode lançar mão de recursos visuais para potencializar a comunicação e o sentido das canções. A série “Fundos” da Lúcia Koch serviu como inspiração para a criação do palco e a direção de arte. A intenção era criar um diálogo entre o mundo interior e o mundo exterior numa alusão ao isolamento, a solidão com um escape através do sonho e do imaginário.
Para além das dificuldades trazidas pela pandemia, vivemos tempos difíceis no Brasil e no mundo, de agravamento das desigualdades, degradação ambiental, de muitos conflitos e muita polarização política e cultural. Em sua opinião, como a música — e a arte como um todo — pode contribuir para este momento tão sui generis da humanidade?
Muito. Em momentos de dificuldade e desesperança a arte e a imaginação nos dão suporte para suportar o insuportável.
Já passamos por ditaduras em nosso país…momentos em que a liberdade de expressão foi cerceada, com censura, prisões, exílios, tortura e até morte de jornalistas e artistas. Você acha que o posicionamento político é parte do que representa ser um artista?
Um artista antes de tudo é um cidadão como outro qualquer, mas tem uma responsabilidade extra por ter a sua voz amplificada. Política para mim vai muito além da partidária, tem a ver também com relações, diálogo e postura no mundo.
Você é uma artista que resgata as tradições da nossa música, já tendo cantado composições de Pixinguinha e Noel Rosa e produzido o importante documentário “Mistério do Samba” (2008). Como portelense e carioca, qual é a importância desse resgate das raízes da nossa música e das memórias de seus compositores?
Acho que conhecer o que foi feito antes ajuda a entender o que a gente é. Somos fruto de um processo histórico e de todos que vieram antes de nós. Gosto de fazer arqueologia e pesquisa musical, descobrir grandes pérolas do passado.
Eu estou à frente do Instagram @RioAntigo e tenho uma enorme alegria em tê-la como nossa seguidora. As construções antigas do Rio encontram-se numa situação complicada, de muita decadência, abandono e demolições. Qual patrimônio histórico da nossa cidade você mais gostaria de ver passando por um restauro?
Vários daqueles sobrados lindos do centro da cidade.
Gostaria de aproveitar a oportunidade para te perguntar: quais são os seus lugares favoritos do Rio Antigo?
Glória e Santa Teresa.
–
Quer assistir ao show da Marisa?
Queremos! Festival
A quarta edição do evento reúne artistas dos mais diferentes estilos, que se revezam em dois palcos: da diva Marisa Monte, presença rara em festivais, à baiana Rachel Reis e ao carioca Zé Ibarra, novas sensações da nossa música. Russo Passapusso, vocalista do BaianaSystem, apresenta o show ao lado da dupla Antônio Carlos e Jocafi. Liniker, os rappers Rico Dalasam e Flora Matos, e MC Poze do Rodo, que transita entre o trap e o funk, são mais atrações nacionais. Os britânicos Cymande e Yazmin Lacey são as internacionais.
Marina da Glória. Avenida Infante Dom Henrique, s/nº. Sáb. (15), 14h. R$ 250,00 a R$ 500,00. Ingressos pelo Eventim.
–
*Daniel Sampaio é advogado, memorialista e ativista do patrimônio. Fundou o Instagram @RioAntigo e é presidente do Instituto Rio Antigo.