Hoje começa o Carnaval Carioca! Depois de 2 anos as escolas de samba retornam à Sapucaí! Depois de tanta espera, a magia paira novamente no ar!
Algo incrível no nosso carnaval é sua pluralidade, ele acontece nas ruas, blocos, salões de baile, grupos de bate-bola e tantas outras manifestações culturais ao longo do tempo. Hoje vamos relembrar algo que ficou esquecido no passado: os coretos do subúrbio do Rio.
O carnaval de rua dos bairros do subúrbio sempre foi animado e popular, e mesmo não recebendo apoio financeiro da prefeitura, acontecia com a mobilização de associações de comerciantes locais e de moradores, clubes esportivos e dançantes para organização e decoração das ruas. A febre do momento eram os coretos monumentais e, em 1924, Madureira entrou para a história com a sua Torre Eiffel.
Este coreto foi erguido em homenagem ao feito de Santos Dumont, que voou com o dirigível número 06 em 1901, recebendo o Prêmio Deutsch por operar a primeira máquina aérea capaz de realizar uma viagem de ida e volta do Parc de Saint-Cloud até a Torre Eiffel em menos de 30 minutos.
O suntuoso coreto media 18 metros de altura com uma base quadrada de 24 metros, contando com três pavimentos giratórios, um farol, um balão e 400 lâmpadas elétricas. Foi imortalizado por Tarsila do Amaral no quadro “Carnaval em Madureira”. O quadro, com cores fortes e uso de formas geométricas em sua composição, mostrava a torre parisiense em pleno carnaval do bairro. Por muito tempo foram feitas interpretações para o quadro com base no sentimento de deslocamento da artista ao voltar para o Brasil depois de longa temporada no exterior. Embora não se saiba se Tarsila esteve pessoalmente no carnaval de Madureira daquele ano, é fato que a artista estava no Rio de Janeiro na época e, somente após a realização de estudos pelo IHGB (Instituto Histórico e Geográfico da Baixada do Irajá) confirmando a existência da Torre Eiffel de Madureira, foi possível associar a referência.
No carnaval de 2019, a Portela trouxe pelas mãos da professora Rosa Magalhães o enredo “Na Madureira Moderníssima, Hei Sempre de Ouvir Cantar uma Sabiá”, exaltando a brasilidade na obra de Clara Nunes e tendo como marco desta brasilidade plural pulsante em Madureira a obra de Tarsila do Amaral.
Ainda que muita gente não conhecesse essa história, o carnaval cumpre um de seus muitos papéis: o de recontar sua própria história em verso e prosa na Avenida!
*Daniel Sampaio é advogado, memorialista e ativista do patrimônio cultural. Fundou o Instagram @RioAntigo e é presidente do Instituto Rio Antigo.
**Texto feito em parceria com Raquel Oliveira, guia de turismo do projeto RIO ANTIGO A PÉ.