Não é a primeira vez que uma novela apresenta uma mulher de 50+ apaixonada por um homem mais jovem. Fernanda Montenegro já foi par de Cauã Reymond em Belíssima, Vera Fischer já namorou Reynaldo Gianecchini em Laços de Família. Beatriz Segall tinha um romance secreto com Carlos Alberto Riccelli em Vale Tudo. Há fetiche e tabu em torno do tema. Essa diferença de idade vinha sendo tratada assim na ficção até que a autora Lícia Manzo criou Rebeca, a ex-modelo interpretada por Andréa Beltrão, para Um Lugar ao Sol.
A personagem tem roubado a cena da novela das nove. Em crise no casamento e na vida profissional, Rebeca se apaixona por Felipe (Gabriel Leone). Não bastasse ser ex-namorado da melhor amiga de sua filha, o jovem é também neto de sua terapeuta. Arrisco dizer que o que faz dela tão interessante é a forma com que a autora aborda a mulher contemporânea, com as delícias e os desafios desta fase da vida.
Menopausa, masturbação feminina, insegurança diante das mudanças na aparência decorrentes da idade, sexo, desejo, realização x frustração profissional, expectativas de um casamento de muitos anos, traição, filhos que passam pela adolescência. As pressões são de diferentes lados nesta fase, que muitos erroneamente julgam ser mais calma, algo como se a mulher de 50+ já tivesse pendurado as chuteiras. Alto lá!
A mulher contemporânea de 50+ está na mira hoje. A revista Vogue lançou em 2020 o Festival Sem Idade, para este público. Marcas estão conscientes do poder de consumo delas e da voz que ganharam também com as redes sociais. A Medicina e o mercado de wellness se esforçam cada vez mais para oferecer a elas uma melhor qualidade de vida. Com o aumento da expectativa de vida da mulher, que está em 80 anos no Brasil, segundo o IBGE, os 50 são praticamente metade da vida. Ainda tem muito pela frente!
Quem está acompanhando ou ao menos espiou as cenas da Rebeca viu que ela procurou um cirurgião plástico. A decisão ocorreu depois de uma decepção no trabalho com uma campanha fake e de ouvir o marido (Daniel Dantas) oferecer a ela uma cirurgia de presente, porque talvez ela ficasse mais feliz depois de corrigir algo que a incomodasse. Ela não gostou do que ouviu do marido, mas procurou o médico, que sugeriu a aplicação de fios de sustentação nas laterais do rosto. Diante do espelho, ela insegura, relembrou as cenas de sexo com o Felipe, que a acha linda do jeito que ela é.
Ao ver o motivo de Rebeca ter procurado o cirurgião, pensei em algo que sempre reforço no consultório. Acredito que também é papel do médico entender com muito tato os desejos da paciente e o que a levou a buscar um procedimento estético. Por isso, em toda primeira consulta, faço questão de perguntar tudo sobre o dia a dia da paciente. Muitas vezes não é só uma ruga que a paciente quer esconder. Pode haver muitas questões emocionais por trás de um simples pedido de Botox. Há que se ter delicadeza e respeito como médico para às vezes dizer ‘não’, você está linda – como Rebeca – e não precisa de nada ou então ir de mãos dadas com essa paciente para muito além desses pontinhos de botox. A parte mais bacana da medicina que pratico e acredito é ajudar no fortalecimento da saúde, beleza e autoestima de cada um que me procura.